domingo, 12 de dezembro de 2010

Unidade Prata - parte 6

UNIDADE PRATA

Aldomon Ferreira

Estávamos passando por cima da América do Norte, rapidamente passou por nós a Central e por fim sobrevoamos o Brasil. Avistei uma imensa floresta, em breve tempo comecei a pousar às margens de uma pequena cachoeira, e a nave tocou o solo de uma clareira de pedrinhas polidas, peculiar aos leitos de rios de águas cristalinas. O sol tinha acabado de nascer naquela floresta tropical, árvores altas e esguias formavam uma ampla cúpula de folhas, que deixavam escapar por entre as frestas feixes de luz que se transformavam em raios brancos ao serem envolvidos pelo vapor que estava sendo exalado do chão, como também das plantas. Nós desembarcamos, ela correu seus olhos em várias direções da floresta, e espontaneamente falou com ar de contentamento:

- Este lugar parece encantado. Como a natureza deste planeta é bela!
Convidei-a a me seguir por uma estreita trilha feita em degraus de terra, demos uns seis passos e pedi-lhe que parasse. Iara obedeceu prontamente, mesmo sem saber do que se tratava. Mentalmente eu pensei em uma palavra que servia de senha. Ao pronunciá-la em minha cabeça, foi como se tivesse retirado uma barreira invisível do nosso caminho, eis que surge diante de nós um pedaço do paraíso, uma casa de tijolos brancos reluzentes: estava cercada por um colorido jardim de flores que se estendia em volta da trilha em que estávamos.
Caminhamos por entre o jardim até chegarmos à frente da fachada da casa: janelões de vidro transparente davam ao interior daquela casa silvestre uma intensa claridade que realçava ainda mais o ar de vida no ambiente.
Virei a maçaneta e abri a porta transparente. Com um gesto convidei Iara a entrar primeiro. Ela sorriu e, em seguida, entrou. A sala de estar como também todos os cômodos tinham em sua decoração dois estilos bem distintos : um era rústico-campestre e outro mostrava a sofisticação de uma moderna tecnologia. Após mostrar-lhe todas as partes da construção, sentamo-nos em um confortável sofá e, curvando nossos corpos um na direção do outro, começamos a conversar. Pedi-lhe que me falasse sobre sua Unidade. Com felicidade, uma narração saiu de seus lábios:
- Estou no comando de Canéra há mil anos, e nos especializamos em uma gama de atividades, tais como: efetuar a comunicação com mundos de diferentes universos, ajudar habitantes de certos planetas a evoluir nos aspectos biológicos, materiais e culturais. Também já lidamos com povoação de espécies vegetais e animais em planetas que necessitavam de tais interferências para evoluir mais rápido. No tempo atual, minha Unidade recebeu uma missão, na qual teremos que entrar em universos bastante hostis. Para tal atuação precisaremos estudar a fundo as leis que regem os mundos de cada universo em que teremos de entrar. Por meio do meu comandante, pude ter acesso a você. Bem antes que eu assumisse o comando da minha Unidade, já tinha ouvido falar muito de seu trabalho e de sua equipe de guerreiros dos universos. As missões de vocês são sempre tão difíceis que eu chegava a me encabular com o fato de conseguirem cumpri-las. Já faz tempo que saí à sua procura, mas sua Unidade parecia jamais fixar-se por um tempo que nos possibilitasse alcançá-los em nossos períodos de recesso entre uma missão e outra.
Iara narrava algumas missões que a Unidade Prata tivera no passado. Ela havia tido acesso a informações ultra-secretas, mas sem mistério explicou-me que as tinha recebido de seu comandante, Toraque, num relatório onde constava uma série de ações realizadas por várias equipes da Unidade Prata. Havia sido o próprio Ashtar que o entregara a Toraque. Eu é que fiquei bastante encabulado, pois Iara me tinha em tão alto apreço que eu não me sentia merecedor do patamar em que ela havia me colocado.
- Talvez você fique um tanto quanto decepcionada, pois no momento atual estou cumprindo um difícil trabalho: vim para este planeta com duas missões, uma no mundo astral e outra no mundo físico. Em função disso tive que nascer em um corpo da Terra. Já dá para imaginar o quanto estou limitado por ter sido ligado a um escafandro de carne e ossos. Não que eu esteja maldizendo o meu corpo material.
Vez ou outra ela dava um sorriso e transmitia em seu olhar a segurança de já estar a par da minha situação. Senti-me um bobo de estar falando o óbvio.
Novamente escutei a voz amiga e envolvente de Iara:
- De maneira alguma estou decepcionada com a situação em que você se encontra, ainda mais que fui informada a respeito da importância da missão que você realizará no mundo físico. Isto me fascina ainda mais.
Pensei comigo mesmo: "- Ela já sabe o que vim fazer no mundo físico quando nem mesmo eu imagino o que seja."
- Comunicaram-lhe também o motivo pelo qual eu ainda não fui informado de qual é minha missão? - Perguntei curioso.
Iara mudou de posição no sofá, parecia buscar a resposta mais adequada. Ela ficou em silêncio por um breve tempo, e por fim:
- Só o que posso lhe dizer é que, ao sair em busca da grande resposta, sem perceber terá iniciado a sua missão, e então será inevitável a descoberta do seu destino.
As palavras que ouvi naquele instante encheram minha vida de esperança. Já estava mais que satisfeito, sutilmente fui mudando de assunto.
- O que poderemos fazer por sua Unidade? - Perguntei voluntarioso.
- Precisamos de informações e também de treinamento bélico.
Ao escutar suas palavras fiquei um pouco intrigado, e pensei: "- Será que Canéra se tornara uma Unidade guerreira?"
Ela percebeu minha estranheza, e sem demora explicou-me:
- Para que possamos realizar nossa próxima missão, precisaremos formar uma equipe bélica para fazer a proteção das demais. Com isto não correremos o risco de ser dizimados, por habitantes de planetas cujo comportamento predominante ainda é a agressividade. Nós concluímos os planos de treinamento de Canéra.
Levantamo-nos do sofá e fomos para o jardim. Iara se deleitou envolvida pela fragrância sedutora do perfume das flores, andamos por entre os pés de roseiras, contemplando a linda variedade de rosas cujas pétalas ainda estavam molhadas de orvalho.
Afastei-me um pouco, e de certa distância assisti a um deslumbrante espetáculo de feminilidade: aquela bela mulher de cabelos esvoaçantes banhava o seu corpo com pétalas cor-de-rosa. Seu semblante parecia estar imerso em um êxtase delirante. As pétalas transformaram-se em sedoso vestido levemente transparente, ela parecia a própria deusa Vênus em pessoa. Seu corpo flutuou com suavidade por sobre o roseiral, uma brisa alegre fez seu vestido dançar sinuosamente.
Os olhos dela buscaram os meus, que sem dificuldade foram encontrados. Como se fosse uma fada, ela flutuou em minha direção, seus pés delicados desceram ao solo, tocando carinhosamente a relva orvalhada: fui agraciado com seu abraço, senti em todo meu corpo a irradiação do seu amor.
Voltamos para a nave, o brilho do sol reluzia em suas laterais. Decolei com rapidez falando para minha companheira de viagem que a levaria para conhecer pessoalmente minha vida no mundo físico. Estacionei a espaçonave próximo à minha moradia. Passamos através da parede do meu quarto, mostrei-lhe meu corpo deitado na cama e falei um pouco apressado:
- A nave funciona com controle automático, caso você não queira pilotar. Infelizmente tenho que voltar agora para meu corpo.
- Até mais ver ! - Falei apressadamente.
Abri meus olhos e pensei: "- É... novamente no mundo físico!" Respirei fundo e levantei-me da cama. Abrindo a janela, vi que estava um bonito dia de verão, o clima estava convidativo para uma caminhada no parque.
Andando por entre pinheiros gigantes, pisava em um imenso tapete de folhas finas, que faziam com que o chão se tornasse macio. Após longa caminhada, sentei-me à sombra de algumas árvores, e comecei a meditar: passava por mim os caminhos do destino, mas eu bem sabia que só poderia escolher um de cada vez; embora possuísse algumas habilidades extra-sensoriais, isto não me facilitava a escolha do rumo que eu deveria seguir para encontrar minha missão.
As lembranças do contato que tivera com as pessoas de minhas palestras, bem como as dos cursos, continuavam vivas em minha memória, e nestas reminiscências tentava decifrar algumas respostas que talvez pudessem facilitar minha escolha.
Sem que eu me desse conta, meus pensamentos foram conduzidos para Iara, senti sua presença perto de mim e, como se a estivesse vendo à minha frente, pronunciei carinhosamente o seu nome.
Tinha certeza de que ela estava ali. Concentrei minha visão para tentar abrir minha clarividência. Enfoquei um ponto fixo no espaço vazio, e eis que surgiu no centro da minha visão um ponto brilhante: ele era azul e vermelho fluorescente, as cores mexiam-se entre si e, de súbito, produziram uma pequena fresta dourada luminosa.
Sabia que esta pequena abertura podia ampliar-se abrindo um portal que possibilitaria enxergar outras dimensões, e assim eu poderia ver Iara. Por mais que concentrasse, não conseguia energia suficiente para abrir o portal.
Após tentar por uns dez minutos, tive que desistir, pois fiquei muito cansado energeticamente. Suspirei de lamento, por ainda não ter o domínio total desta habilidade tão importante. Vez ou outra conseguia abri-la, porém na maioria das tentativas acabava frustrado por não conseguir.
Fiquei olhando para o chão um pouco triste por não ver minha amada Iara. Depois de conformado, regressei à minha casa, na ansiedade do cair da noite.
Através do sono viajei para o mundo astral. Surgi em um campo de batalha: de um lado o exército positivo e do outro, o negativo. Corri em volta de lançadores de mísseis, tão grandes que mais pareciam foguetes espaciais. Ao longe, os estrondos das explosões. Uma intensa agitação da correria dos soldados, que mudavam permanentemente de posição.
De repente uma bomba atinge minhas pernas. Com a explosão fui parar longe - felizmente minha armadura protegeu totalmente o meu corpo, com sua blindagem.
Levantei-me como que num reflexo, olhei para o céu e vi uma esquadrilha de naves. Ativei meu comunicador na freqüência em que elas estavam operando, e então identifiquei-me:
- Aqui é Alderan, da Unidade Prata. Vocês aí em cima, estão precisando de ajuda ?
- Afirmativo, toda ajuda será bem-vinda! Estamos sofrendo um ataque maciço das forças dos dragões; se eles atravessarem esta barreira, colocarão em risco nossa base avançada do Quadrante 7. Nesta base estão centenas de crianças em processo de viagem astral.
- A ajuda será enviada imediatamente! - Afirmei com segurança.
Comuniquei-me com o Cruzador:
- Sion, alerta de emergência no Quadrante 7 da quinta dimensão! Enviar equipe tática 1 para combate aéreo, sob seu comando!
- Entendido, logo estaremos no campo. - Respondeu Sion.
Entrei em contato com Iara e pedi-lhe que viesse com uma de suas equipes, a fim de recolher as crianças que estavam na base. Esta seria uma boa oportunidade de já iniciar o treinamento de sua Unidade.
Ativei no implante cibernético uma armadura batalhóide, que trazia em si imenso potencial de demolição. Tal poderio bélico teria de ser empregado para fazer o máximo visando garantir a segurança.
Sobrevoei o campo de batalha e desci na cobertura de um dos prédios que compunham o complexo da base. Percorri rapidamente as escadas, passando por várias salas e alertando as monitoras das crianças: todos os prédios teriam que ser imediatamente desocupados, pois era iminente o ataque das legiões sombrias.
Nos pátios dos prédios, algumas naves comandadas por Iara estavam prestes a pousar.
Os caças do Cruzador sobrevoavam o céu, abatendo as aeronaves inimigas, e também atingiam alguns tanques que estavam tentando abrir caminho em direção à base.
No visor do meu capacete surgiram imagens aéreas do campo de batalha. Algo inesperado começou a acontecer: de dentro do solo começaram a sair máquinas blindadas gigantescas. Pareciam centopéias de metal, pois tinham em suas costas centenas de largos canhões. Elas eram tantas que nossas centenas de naves não estavam conseguido detê-las.
Novamente entrei em contato com o Cruzador:
- Poderon, teleporte-se com toda equipe de infantaria para cá imediatamente.
Em uma fração de minuto, mais de mil soldados cercaram a base, e armados de canhoneiras laser entraram na batalha. Por algum tempo também participei do confronto bélico. Da minha armadura, que mostrava proporções agigantadas, abriam-se compartimentos em várias partes, e deles saíam mísseis. Quando, por fim, minha carga de energia estava quase se acabando, desativei a armadura batalhóide, e fiquei apenas com a protetora.
Teleportei-me para um pátio da base. Lá chegando, encontrei apenas duas naves da Unidade Canéra, que acabavam de recolher as últimas crianças. Ao aproximar-me de uma delas, avistei Iara em uma das janelas.
- Encontro-a depois, lá no Cruzador! - Falei com certa pressa.
Ela concordou e, em seguida, partiu.
Um caça pousou logo à minha frente. Velozmente entrei em seu interior e decolei para novamente entrar em combate. Restavam apenas poucas centopéias de metal, que logo foram destruídas.
Os soldados da infantaria começaram a recolher os integrantes dos exércitos inimigos. Os caças regressaram ao Cruzador e no céu restavam apenas algumas poucas naves recolhedoras.
Todos os prisioneiros foram levados para uma imensa nave-prisão, que se encontrava fora da atmosfera Terrestre.
Já de volta a Triton, recarreguei o meu implante eletrônico na câmara de energia. Após concluir a energização, entrei em contato com Iara, convidado-a para sairmos juntos.
Desta vez, fui eu quem foi em seu cruzador. Assim que cheguei, fui calorosamente recebido por ela e conheci algumas de suas comandantes de equipe.
Iara olhou para mim com ar de mistério.
- Alderan, tenho algo para mostrar-lhe antes de sairmos. - Falou confidencialmente.
- Estou à sua disposição!
Acompanhei-a por alguns corredores quando, de repente, entramos em um grande salão, que tinha seu interior lotado de câmaras de animação suspensa. Em uma destas câmaras de cristal avistei a replica de Iara.
Pensei comigo mesmo : "- Ela também deve estar fazendo uma viagem astral."
- Sim, Alderan, você está certo. Entretanto, não é apenas por um período correspondente a uma noite terrestre, e sim o tempo de três meses.
"Então e neste prazo que ela vai embora." - Pensei comigo mesmo.
Decolamos com destino ao planeta azul. Desta vez a levaria a outro lugar especial.
Descemos nas areias de um deserto do oriente. Ali eu havia construído um pequeno castelo no estilo árabe, que geralmente utilizava para meditação. Transpusemos um salão, cujo chão estava forrado com uma grande variedade de tapetes. Existiam pedestais espalhados em várias partes, trazendo em si vasos e esculturas que enfeitavam o ambiente, juntamente com os quadros de vitrais.
Convidei-a para seguir-me até os fundos da construção, onde eu havia feito um oásis artificial.
A noite era de Lua cheia. Sua luminosidade produzia uma claridade prateada na areia. Sentamo-nos em um banco de mármore. De onde estávamos podiam ser vistos múltiplos brilhos na água do laguinho que, por sua serenidade, se transformara em espelho.
Olhei
profundamente nos olhos de Iara, e com tranqüilidade comecei a falar:
- Veja bem este deserto: apesar do clima árido, aqui vivem seres que por muitas vezes impõem sua vontade de continuar existindo e renascem como que de suas próprias cinzas. A humanidade Terrestre, de certa forma, vai assemelhar-se à natureza do deserto, pois um novo mundo está prestes a surgir, fazendo com que o velho venha a extinguir-se.
A curiosidade transpareceu no rosto de Iara:
- Quando a Unidade Prata concluirá sua missão aqui na Terra?
- Somente após a retirada de todos os seres negativos que ainda existem no Planeta.
Naquele lugar paradisíaco conversamos por alguns minutos, até que nossas responsabilidades nos chamaram ao dever. Ela partiu para seu cruzador, eu lá permaneci por um breve tempo, até que fui puxado para meu corpo do mundo físico.
Levantei-me ao raiar do dia, que por sinal seria longo.
O carro corria pelo asfalto. Éramos quatro em seu interior, e os assuntos de maior interesse, durante toda a viagem, sempre diziam respeito a experiências transcendentais. Por fim, avistamos as montanhas de uma linda chapada, que se localizava em uma reserva nacional.
Nós nos instalaríamos em uma pequenina cidade cravada em um berço de montanhas. Eu já havia visitado aquela região algumas vezes, mas sempre me encantava com a magia e beleza dos vales.
Como me agradava toda aquela tranqüilidade. Ainda mais pelo fato de que sempre preferi viver em locais de retiro.
De repente avistamos a entrada da cidade. Busquei na minha memória os rostos dos meus amigos e conhecidos que ali viviam e que, ao visitá-los, tão bem me recebiam.
O Sol centralizava-se no firmamento, denunciando o meio-dia. Unanimemente preferimos ir em busca de um restaurante e almoçar antes de fazermos qualquer outra coisa.
Enquanto nossa mesa não era servida, começamos a traçar o percurso que faríamos. Primeiramente visitaríamos a casa de um amigo comum, que era muito querido por todos; depois iríamos a uma mina de cristal, que ficava no alto de uma pequena montanha; dai em diante faríamos o que nos parecesse mais aprazível.
O pedido foi servido e, entre uma garfada e outra, surgiu o assunto dos vários tipos de alimentação. Uma de nossas companheiras de viagem fez uma pergunta com expressivo grau de interesse:
- Aldomon, já faz algum tempo que parei de alimentar-me com qualquer tipo de carne animal, pois começou misteriosamente a acontecer uma coisa muito estranha: toda vez que eu comia carne, começava a sentir um mal-estar insuportável, o que inevitavelmente me fez abandonar tal hábito alimentar. Poderia explicar o motivo de tão incômoda sensação?
Dei um sorriso, pois lembrei-me naquele instante da desintoxicação a que fui submetido no passado. Com bom-humor, revivi na minha memória a cena do baita choque que levei dos aparelhos:
- A carne animal traz em si cargas de energia psico-emocionais que foram programadas por instintos animalizados. Por isto, se o ser humano ingerir a energia emocional que vem junto com a carne, transferirá para si própria as características instintivas peculiares do animal ao qual ela pertencia. Há entre os seres humanos aqueles cujos corpos estão passando por uma sutilização energética, e isto faz naturalmente com que as pessoas fiquem até doentes com a energia da carne. Pode ser este o seu caso.
Saímos do restaurante e passamos na casa do nosso caro amigo. Ele e sua mulher nos atenderam com atenção e hospitalidade. Notamos que eles pareciam estar bastante atarefados, conversamos por breves momentos e então despedimo-nos.
A poucos quilômetros da cidade, deixamos o carro na auto-estrada e pegamos uma trilha cercada de vegetação rasteira, localizada onde parecia já ter sido algum dia um pasto.
Andávamos pelo estreito caminho. O céu azul celeste só estava sendo maculado por algumas poucas nuvens branquinhas e rarefeitas. A altitude em que estávamos era tamanha que as nuvens pareciam quase tocar o chão. O vento suave aumentava ainda mais a sensação de liberdade, o Sol estava um pouco forte, mas não o suficiente para incomodar.
A caminhada seguia lenta e absorta, raramente se ouvia alguém falar, todos pareciam estar envolvidos pelo fascínio da observação daquela paisagem montanhosa. Éramos interrompidos vez ou outra por alguns mosquitos inconvenientes que pareciam não gostar de visitantes, pois se esforçavam para deixar suas marcas em nós, talvez para que não esquecêssemos o repelente da próxima vez .
A vegetação à nossa frente foi tornando-se cada vez mais bela, passamos pelo alto de um platô cujo chão estava forrado por um tapete de capim fino repleto de flores delicadas: amarelas, brancas e lilases. Elas dançavam ao sabor do vento, que soprava sem cessar.
Subimos e descemos morros e cristais começaram a ser vistos pelo caminho: eram pedrinhas de um encanto peculiar, com vários tipos de lapidação, que a própria natureza encarregara-se de fazer.
Por fim, chegamos à mina no alto da montanha. Sentei-me em um barranco e fiquei observando a colheita de cristal. Fechei os olhos e concentrei-me na absorção da energia vital que o Sol havia imantado naquelas pedras.
Após poucos minutos, fiquei plenamente carregado. Então, parei rapidamente a absorção, para não ficar com sobrecarga.
O clima foi ficando muito quente, e tivemos que voltar à cidade para evitarmos uma possível insolação. Antes do cair da noite, hospedamo-nos em um hotel.
O céu encheu-se de estrelas e não tardou muito para eu viajar ao mundo astral: uma nave do Cruzador já me aguardava a pouca distância da janela do quarto, subi a bordo e voei rumo a Triton. Lá, eu seria submetido a mais uma cirurgia. Desta vez mexeriam no meu cérebro para implantar um aparelho, o qual teria importante função em minhas viagens interdimensionais, pois tal mecanismo iria aumentar vertiginosamente o tempo de duração de minhas saídas.
Como de costume, fiz a aproximação com uma das rampas de pouso e, em breves instantes, já estava a bordo. Teleportei-me para a sala de implantes para que fosse feita, o mais rápido possível, a colocação do aparelho.
Deitei-me em uma fria mesa metálica, vi à minha volta o rosto dos técnicos que efetuariam o implante. Um deles segurou um recipiente com um líquido esbranquiçado. Ao abri-lo, nele foi submergida uma pinça, e lá de dentro surgiu uma pedra que se assemelhava a um diamante semi-esférico, com incontáveis facetas lapidadas em sua superfície, e que produziam reflexos diamantinos.
Senti como se o topo da minha cabeça fosse aberto, porém sem qualquer dor. Por algum tempo fiquei vendo clarões coloridos, até que foi concluída a operação.
Levantei-me da mesa e subitamente comecei a perceber que o meu grau de lucidez tinha sido aumentado consideravelmente: senti que não precisava mais fazer esforço de concentração para transferir a memória para o corpo material.
Teleportei-me para a ponte de controle, a fim de preparar a execução de uma missão que necessitava o máximo de urgência.
- Sion, ativar Equipe Prata Líder. Os dados da missão estão no computador central. Estou indo para a rampa de decolagem das naves de combate.
- Entendido, Alderan. Estaremos lá o mais breve possível.
Fui comunicado, pelos rastreadores da Unidade, de que foi registrada a abertura de um portal dimensional no Quadrante 104 da quarta dimensão astral e de que alguns seres das sombras saíram do portal e invadiram um setor de segurança. Tínhamos que agir rápido para que os seres negativos não causassem danos para as cidades daquela região.
Na rampa de decolagem, eu escolhia equipamentos que seriam utilizados na ação. Dezenas de andróides ajudavam-me a transportar para as naves os aparelhos que iam sendo escolhidos, entre os quais motos magnéticas e armamentos de vários tipos. De repente a Equipe Líder surgiu diante de mim.
- Sion, Miria, Solron e Drilha, vocês ficarão nos dando apoio aéreo com as naves de combate . Todos os outros irão por terra nas motos magnéticas.
Decolamos velozmente em direção à superfície terrestre. Ao passarmos entre as nuvens, nossas naves fizeram uma transição dimensional e materializaram-se na quarta dimensão astral. Sobrevoamos os edifícios de uma grande cidade.
Os sensores vibracionais registraram a localização das entidades negativas: no monitor visual foram surgindo pontinhos vermelhos, em número um pouco acima de uma centena. As naves passaram logo acima de alguns prédios que estavam em volta de uma larga avenida. Subi em uma moto magnética.
Foi aberta uma porta na parte inferior da nave, inclinei meu corpo um pouco para a frente, liguei o aparelho e saí pela abertura da nave de combate.
Pairei pela avenida que estava cheia de carros astrais. Logo fui cercado por meus companheiros de equipe. Uria estava do meu lado direito. Ao vê-la, falei rapidamente:
- Fique atenta, pois precisarei de suas habilidades de magia.
Ela inclinou levemente sua cabeça, coberta pelo capacete, indicando que havia entendido. Do meu lado esquerdo estavam Poderon e Calia.
- Preparem-se todos para o combate: exército inimigo à frente, acionar invisibilidade. - Orientei-os.
Nós teríamos que teleportá-los para as naves-prisões, mas isto não seria coisa tão simples, pois antes teríamos que apanhá-los.
Fizemos a aproximação e avistamos as tropas sombrias. Eles estavam em veículos blindados. Sem demora, sobrevoamo-los e com precisão abatemos, com mísseis, todos os tanques. Alguns soldados, ao verem que estavam sendo atacados por seres invisíveis, começaram a dar tiros de canhoneiras a esmo. Estas armas eram portáteis e delas saíam chuvas de setas metálicas.
Passava pelas proximidades uma pequena multidão de civis, que pareciam não perceber o que se estava passando naquela avenida. As setas poderiam atingi-los e causar sérios danos a seus corpos astrais.
Uria então usou magia para evitar o dano iminente. Mesmo estando em cima da moto, ela elevou suas mãos um pouco acima de sua cabeça e de seus dedos semi-abertos saiu uma onda de energia azulada que, ao atingir a chuva de setas, transformou-as todas em bonitas flores.
As naves, em vôos rasantes, destruíram totalmente, com seus raios laser, os tanques que estavam apenas danificados.
Os integrantes das tropas invasoras ficaram sob controle. Pouquíssimos permaneceram de pé, a maioria teve seus primeiros corpos desmaterializados. Isto fez com que suas consciências fossem transferidas para seus segundos corpos astrais, os quais foram enviados para uma dimensão bem mais sutil, onde já estavam sendo aguardados por outra equipe da Unidade. Os soldados restantes foram paralisados, as naves recolhedoras surgiram no céu e banharam a avenida com seus raios de teleportação, levando a bordo os seres imobilizados. Eu e parte da Equipe Líder permanecemos por algum tempo no local do combate, rastreamos minuciosamente as proximidades para nos certificarmos de que nem um invasor havia escapado.
Nossas motos alçaram vôo em direção às naves de combate que estavam a uns trezentos metros do solo. Entramos pelos mesmos compartimentos dos quais outrora saímos.
Sentei-me em uma das poltronas do controle, comuniquei-me imediatamente com as outras naves informando-as da nossa partida com destino à grande nave-prisão, que estava estacionada entre a Terra e a Lua. Fizemos um cerco em volta das naves recolhedoras para sua escolta pois, a qualquer momento, poderiam ser atacadas por naves de alguma força-tarefa negativa, com a intenção de resgatar os prisioneiros.
Estávamos em alta velocidade. Não mais do que poucos instantes e nos encontramos diante da prisão voadora: ela era uma imensidão de metal esférico, que tinha à sua volta um fortíssimo escudo de defesa. Dali ainda não se teve notícia de que alguém já tenha conseguido fugir.
Fizemos contato, alertado sobre nossa entrada. O escudo jamais era desligado, todas as naves que saíam ou entravam tinham um dispositivo próprio que as sintonizavam com o campo protetor do escudo.
Assim que minha nave entrou no hangar de pouso, tive repentinas lembranças dos incalculáveis seres que já foram aprisionadas pela Unidade Prata e das inúmeras ameaças que foram dirigidas especialmente a mim, vindas de entidades de grande poder negativo. Com bom humor pensava comigo mesmo: "-É, estando eu com um corpo físico da Terra, desejo nunca ter um encontro surpresa com algum destes seres em um beco escuro, a não ser que eu esteja devidamente equipado com armadura e armas potentes pois, se assim não for, era uma vez um guerreiro dos mundos."
As naves tocaram o chão da rampa de pouso. Abri a porta e desci flutuando até tocar o piso de metal. Afastei-me um pouco das naves e fiquei observando o transporte dos seres paralisados: eles foram magneticamente ligados uns aos outros, estavam flutuando a um metro e meio do chão e eram conduzidos por alguns andróides. Por fim, foram todos levados para as câmaras de triagem mental, onde seriam identificadas suas freqüências vibracionais.
Com isto se determinaria se alguns voltariam para o planeta ou se ficariam na prisão para posteriormente serem levados para planetas que oferecessem um nível de evolução similar a suas vibrações. Apesar de não ter feito uma análise detalhada da evolução dos prisioneiros recém-chegados, a minha experiência já me dava a certeza de que todos seriam levados para fora do planeta Terra, até que evoluíssem suficientemente para poderem regressar a este planeta, ou até mesmo terem acesso a outros bem mais evoluídos.
Teleportei-me para o centro do comando, onde me encontrei com o comandante da prisão espacial. Após as saudações, pusemo-nos a conversar:
- Clabaque, fiquei sabendo que a cota de prisioneiros está quase completa. Sei que isto significa que partirão em pouco tempo para outros planetas, para descarregarem e novamente regressarem para cá. Se desejar, uma das equipes da Unidade Prata poderá escoltá-los durante toda a operação.
Por sua expressão pude perceber que aceitara minha proposta.
De volta à rampa de decolagem, subi a bordo da nave. Então, a esquadrilha partiu de volta ao Cruzador.

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