sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Livro Unidade Prata - parte 4

UNIDADE PRATA

Aldomon Ferreira

Saí da sala de cirurgia com destino à câmara de treinamento virtual de combate simulado. O treinamento no simulador virtual seria de fundamental importância para que eu aprendesse a manusear os implantes.
Eu ainda não fazia idéia de como utilizar todos os poderes que obtive ao adquirir os implantes cibernéticos. Eu teria acesso a uma infinidade de aparelhos eletrônicos da mais alta tecnologia mas, no entanto, não tinha total consciência de até que ponto meu corpo da Terra suportaria as altas cargas de energia elétrica.
Um pouco antes de entrar na câmara de simulação, acionei no implante uma armadura bélica. Já no interior do simulador, pude perceber que este assemelhava-se a uma esfera oca, vista do lado de dentro. A esfera prateada foi acionada, dando início ao combate virtual.
Ilusoriamente, fui transportado para uma região rochosa, de céu avermelhado e com pouquíssima luminosidade. A primeira coisa que fiz foi ligar a visão multi-freqüencial, que possibilitava enxergar em qualquer nível de escuridão, ou até mesmo coisas invisíveis naquela dimensão.

Do lado de fora do simulador, foram enviadas diretrizes de ação, as quais foram recebidas por mim através do comunicador do capacete.
Minha missão era descobrir uma base negativa que estava camuflada entre as montanhas, para que pudesse resgatar um grupo de pessoas que haviam sido raptadas.
A fim de conhecer o potencial da armadura, fiz aparecer uma lista de recursos em um pequeno gráfico, na parte interna do visor espelhado do capacete. Diante dos meus olhos passaram-se centenas de mecanismos que praticamente tornavam a armadura invencível em determinados aspectos.
Após memorizar todas as suas capacidades, elaborei um plano para efetuar a ação. Há algum tempo, eu havia estudado o sistema no qual funcionava o simulador, e sabia que o programa básico de funcionamento era efetuado por meio da recriação ilusória da exata realidade de certas regiões, juntamente com os seres que nelas habitam, trazendo com singular veracidade seus potenciais, como também suas limitações.

Liguei a invisibilidade de alta freqüência, o que impossibilitaria que os seres inimigos detectassem minha presença. Com um salto, comecei a voar por sobre as montanhas e, lá do alto, pude ver com maior amplitude diversos aspectos daquele estranho mundo.
Notei que em parte alguma da superfície existia qualquer forma de vida.
Avistei um imensa cordilheira, onde meus sensores registraram altos níveis de energia. Pensei: "Sem dúvida, a base deve estar ali."
Disparando alguns mísseis que saíam de um compartimento em minhas costas, atingi cinco montanhas que se abriram, e de onde saíram caças de combate. Eles não conseguiram notar minha presença.
Não quis perder a chance de testar a armadura prateada em uma luta aérea. Sobrevoei as aeronaves, que pareciam confusas procurando o inimigo invisível.
Dei início a um alvoroço, ao desligar a invisibilidade. Uns dez caças partiram em minha direção, iluminando o céu com suas rajadas de lasers vermelhos fluorescentes.

Contudo, antes que fosse atingido por qualquer raio, o sistema de defesa automático da armadura fez aparecer um escudo eletromagnético, que fazia com que qualquer projétil que o atingisse, voltasse ao local de onde foi disparado. Algumas aeronaves foram atingidas por seus próprios raios, espatifando-se no solo.
Diminuí parcialmente o escudo, apenas o suficiente para que eu pudesse atirar contra os caças que restaram. Materializei um canhão laser e, com precisão, abati o inimigo. Em seguida, parti para entrar na base por uma das montanhas.
Depois de ter lutado contra a segurança interna, resgatei os reféns e os levei para o ponto de partida.
O simulador de combate foi desligado, fazendo com que eu retornasse à realidade, no Cruzador. Os técnicos ficaram satisfeitos com o funcionamento do implante.
Regressei ao físico. Grande parte da manhã havia passado enquanto eu dormia. Pensei: "Valeu a pena ficar fora do corpo até agora!". Conferindo em meu relógio de pulso, vi que eram nove horas da manhã.
Durante uma semana, fiz um intenso treinamento no simulador virtual, até estar totalmente apto a enfrentar combates reais usando a armadura do implante.
No mundo físico, havia chegado o dia de encontrar-me com aquele pequeno grupo de jovens. Tema principal: saídas do corpo.

Todos os participantes da reunião estavam confortavelmente sentados e pareciam sedentos de aprendizado. Comentavam entre si o que tinham achado do nosso último encontro.
Bastante animado, iniciei minha explanação, respeitosamente inquirindo a todos:
- Alguém aqui já saiu consciente do corpo físico?
Dentre as nove pessoas presentes, apenas duas afirmaram terem experimentado a saída astral, e uma delas era Cíntia, o que não me surpreendeu. A outra pessoa era um jovem amigo, chamado Carlos.
Pedi a Cíntia que nos contasse alguma de suas experiências fora do corpo. Após alguns segundos - tempo em que parecia escolher uma lembrança que fosse conveniente expor em público - sua voz alegre (um tanto relutante no início) presenteou os ouvidos aguçados dos participantes com uma variedade de aventuras interdimensionais e algumas interplanetárias. Uma de suas viagens despertou em mim um especial interesse.

Certa noite, ela já havia deitado à espera da chegada do sono quando, de repente, percebeu que encontrava-se fora de sua cama, do lado de fora da casa, olhando fixamente para o céu, esperando que algo surgisse no firmamento e viesse ao seu encontro.

Aconteceu, então, o esperado: diante de seus olhos esverdeados apareceu uma pequena frota de espaçonaves prateadas. Cíntia foi teleportada para o interior de uma delas, onde seres extraterrestres mexeram em sua cabeça, dando a impressão de que haviam implantado alguma coisa.

Isto não lhe provocou medo, pois confiava totalmente naqueles seres, que pareciam conhecidos de um passado distante. Cíntia teve uma estranha sensação ao acordar em seu quarto. Pensou: "Terá sido um sonho? Nossa! Parecia tão real que ainda posso sentir que mexeram em minha cabeça! Talvez eu encontre a resposta para este mistério qualquer dia destes, entre um sonho e outro."

Pressenti que Cíntia não recordara o encontro que tivemos no mundo astral. Analisando o nível de suas saídas interdimensionais, pude constatar que elas aconteciam apenas eventualmente, cerca de uma por semana. Eram, em sua maioria, semi-conscientes.

No entanto, ela irradiava um imenso potencial latente, que parecia querer aflorar e dar-lhe o domínio sobre a saída consciente do corpo.
Caso Cíntia fosse submetida a um treinamento extrasensorial de alto nível, teria grandes possibilidades de dominar suas habilidades psíquicas. Minha intuição dizia que ela ainda não estava preparada para tal desenvolvimento, em função de sua aparente imaturidade.
O próximo a relatar suas saídas foi o tranqüilo Carlos que, alegremente contou-nos uma de suas histórias.
Há quase um ano, Carlos estava deitado quando foi paulatinamente envolvido por um irresistível entorpecimento, que o fez flutuar para fora do seu corpo. Ele teve uma agradabilíssima sensação de liberdade, o que inevitavelmente fez com que ele se emocionasse muito.
Rapidamente perdeu a consciência, até acordar no dia seguinte guardando as lembranças do acontecido.
Senti que o potencial de Carlos era menor que o de Cíntia, embora ele também pudesse ser aperfeiçoado.
Os outros participantes pareciam bastante entusiasmados com aquilo que escutaram de seus colegas. Ficaram esperançosos de que, em breve, também fariam suas viagens astrais.
A conversa ficava cada vez mais animada. O ambiente fervilhava de perguntas, arremessadas em minha direção. Felizmente, a inspiração deu o ar de sua graça, possibilitando-me saciar a curiosidade de todos, naturalmente dentro dos meus limites. Isso era suficiente para produzir injeções de ânimo e interesse. Contudo, tais atributos não seriam suficientes para fazer com que sinceros jovens iniciantes se tornassem viajantes astrais. No caminho à sua meta, apenas entusiasmo, ânimo e interesse cairiam por terra ao se depararem com o peso das dificuldades impostas pelas intrincadas armadilhas existentes.

Um viajante astral enfrenta, entre outras coisas, a necessidade de aprender a conviver, em equilíbrio, com uma enorme variedade de realidades que há em cada mundo dimensional. Em função disso, qualquer descuido no comportamento que possa acarretar a perda da sobriedade consciencial poderá gerar uma tremenda confusão existencial, pois o viajante não conseguirá distinguir plenamente a realidade do mundo em que se encontra.

Isso poderá levá-lo a vários níveis de alienamento mental. É esta a primeira armadilha dos mundos astrais. Para livrar-se dela, o viajante terá que se manter o mais sóbrio possível, mantendo sempre a consciência do lugar em que está.
Nossa reunião havia chegado ao fim. Despedimo-nos uns dos outros na expectativa de um novo encontro, o qual ainda não havia sido marcado, porque preferimos deixar acontecer de forma espontânea.

O meu trabalho de divulgação tornava-se cada vez mais intenso.
Os encontros que outrora eram realizados com intervalos de duas semanas, passaram a ser quase que diários, alcançando uma grande variedade de platéias.
Minha vida foi ficando super ativa, o que inevitavelmente me levou a sair da casa de meus pais, em busca de uma maior liberdade e flexibilidade de horários.
Sentia que o Cosmo conspirava a meu favor pois, sem dificuldade, encontrei um amigo que emprestou-me um lugar para morar. Era uma sala onde, além de morar, poderia acomodar confortavelmente vinte pessoas para eventuais palestras.

Em pouco tempo, recebi cerca de quinze pessoas para a primeira palestra. Seus semblantes mostravam um profundo interesse pelos assuntos apresentados.
A segunda palestra deixou-me impressionado: o número de participantes havia simplesmente dobrado! Trinta pessoas espremeram-se no pequeno espaço, algumas delas espalhadas pelo chão.
O desconforto da minha platéia deixou-me incomodado. Eu teria de encontrar um local maior para as palestras.

Novamente tive a ajuda das inteligências superiores, pois um dos participantes dos encontros conseguiu um auditório de uma escola pública. Todavia, até que este local nos fosse entregue, mais uma palestra ainda seria ministrada na pequena sala onde eu residia.

Sendo que nenhum deles queria ir embora sem escutar as informações ali passadas, a única solução encontrada foi espalhar o excedente de pessoas no corredor do prédio.

Naquela noite agitada, falei a todos acerca dos contatos extraterrestres, os quais estavam ao alcance daqueles que se dispusessem a tal relação interplanetária. Expliquei-lhes que o maior número de contatos ocorriam fora do corpo físico, pois ainda não havia chegado o tempo de contatos físicos em massa com a população da Terra.

Também foi falado a respeito da transição planetária, em que alguns habitantes do mundo físico são substituídos por outros no mundo astral. Assim que perdem seus corpos físicos - por meio da morte - eles são levados para outros planetas. Com isso, nascerá um novo planeta Terra, com novos parâmetros de civilização que atingirão todas as manifestações dos seres humanos.

Notei que, desta vez, nem todas as pessoas presentes transmitiam boas intenções. Dentre as cinqüenta, havia três que pareciam estar ali apenas com o propósito de tumultuar a reunião. Intrometiam-se desrespeitosamente nas minhas falas, tentando desvirtuar o significado das informações que estavam sendo passadas.

Não foi preciso me manifestar pois, de súbito, várias pessoas se levantaram em minha defesa. Fiquei encantado com a elevada educação com a qual uma delas se dirigiu àqueles que estavam me tripudiando. Esta tão distinta pessoa transmitia respeito e dignidade em seu semblante irrefutável. Com autoridade e energia nas palavras, disse:

- Peço a vocês três, que estão atrapalhando este jovem em sua explanação, que não se esqueçam de que viemos aqui para ouvi-lo, e não a vocês. Se não puderem ficar em silêncio, façam a gentileza de se retirar.

Após estas palavras de ordem, um silêncio um tanto fúnebre tomou conta do ambiente, até que foi dissipado quando retomei a exposição de idéias. Finalizei a palestra daquela noite com a complementação das informações sobre a transmigração planetária.

Meu desenvolvimento interior indicava que, a qualquer momento, uma série de faculdades psíquicas seriam despertadas por minha identidade extraterrestre. Existiam duas dentre as habilidades extrasensoriais sobre as quais eu realmente desejava adquirir o controle: clarividência e clariaudiência.

Meu pensamento era que, se eu as controlasse plenamente, poderia manter um contato permanente com os diversos mundos. Vez ou outra eu conseguia controlar a abertura da visão clarividente. Era possível enxergar à distância, podendo ver qualquer pessoa, mesmo que fosse em outro país ou planeta. Também podia vasculhar as imagens das coisas que se passaram. No entanto, não conseguia ver claramente acontecimentos futuros, pois algo bloqueava as visões.

Entre todas as possibilidades oferecidas pela visão especial, a que muito me encantava era a de enxergar os mundos astrais. Mas eu ainda deveria esperar por um tempo indeterminado para adquirir o controle da clarividência.

As viagens para os mundos astrais tornavam-se cada vez mais fascinantes. A cada noite eu aprendia tantas coisas que, mesmo que quisesse, não conseguiria guardá-las só para mim, sendo que tornava-se essencial em minha vida a divulgação da existência de outros mundos. Eu precisava falar sobre os vários níveis de consciência advindos dos contatos com outras realidades. Acreditava que, da mesma forma com que eu transformara a minha vida, também poderia ajudar outras pessoas a compreenderem um pouco da evolução na essência da vida, oferecendo a eles instrumentos para conhecerem os mundos da imortalidade.

Apesar de trabalhar com afinco na divulgação através de palestras, continuei ainda a busca da minha missão no plano físico. Contudo, todos os meus esforços para encontrar a grande resposta do porquê de estar aqui quase se tornavam uma obsessão.

No mundo astral, sempre perguntava a integrantes da Unidade Prata se sabiam o motivo da minha vinda para o mundo físico. No entanto, a resposta era sempre a mesma: "Você ainda tem que esperar algum tempo para que lhe seja revelado este mistério. Pelo visto, precisará de mais paciência."
Sabendo que a descoberta da missão não dependia da minha vontade, permaneci por algum tempo cultivando a mais completa tolerância.

Tornei-me um pregador de conhecimentos dos outros mundos, falando abertamente em minhas palestras, realizadas geralmente em universidades ou escolas.
De palestra em palestra, fui conhecendo uma série de pessoas, com as quais vivenciei variadas experiências.
Sempre que me deparava com o público dos auditórios, meus olhos vasculhavam a multidão em busca de pessoas que trouxessem um sinal em seus semblantes. Procurava aqueles que tinham a marca da imortalidade. Percebi esta singular peculiaridade de várias formas.

Certa noite em que o auditório estava repleto de pessoas atentas ao tema abordado, fitei os presentes, como de costume. Examinei suas naturezas, buscando a origem espiritual de cada um.

Avistei, ao longe, nas últimas poltronas da arquibancada, um menino. Não tive qualquer dúvida: ele trazia em si a marca da imortalidade, que mostrava-se bastante sutil, quase totalmente camuflada por seu corpo de adolescente.
Sua estatura aparentava uns quatorze ou quinze anos de idade. A expressão da face mudava vertiginosamente - ora parecia uma criança, ora apresentava um forte aspecto de pessoa madura e envelhecida com séculos ou milênios de experiência nas coisas da vida.

Olhava-o com especial respeito quando, de repente, um pensamento vindo das profundezas de minha alma produziu em mim uma enorme sensação de já conhecê-lo. Pensei: "Será ele um integrante da Unidade? Talvez aconteça como Cíntia, que mais tarde descobri ser Miria".

A apresentação daquela noite chegou ao fim e, gradualmente, as pessoas iam embora para seus lares. Algumas aproximavam-se, a fim de esclarecer dúvidas ou então elogiar a palestra. O auditório estava quase vazio. Duas senhoras alegres e sorridentes faziam-me algumas perguntas, as quais respondi de imediato.

O próximo a me dirigir a palavra foi o referido menino. Ele parecia um pouco inibido e, timidamente, algumas poucas palavras saíram de sua boca:
- Oi! Gostei muito de sua palestra! Você não imagina o quanto me identifiquei com as coisas que foram ditas, principalmente a respeito de saída do corpo, e também contatos extraterrestres!
- O que você acha de aprender um pouco mais sobre estes assuntos que te agradam? - perguntei.
Ele então respondeu com muito ânimo:
- Podemos começar assim que você quiser!
Pensei por alguns instantes e falei:
- Amanhã está bem para mim, de preferência na parte da tarde. - Enfiei a mão no bolso e retirei um pequeno pedaço de papel com meu endereço.

Combinamos o horário e, antes que nos despedíssemos, ele disse que se chamava Rafael.
No dia seguinte, a tarde havia chegado e aproximava-se a hora do encontro com Rafael.
Selecionava cuidadosamente os assuntos sobre os quais falaria com ele, para que não corresse o risco de revelar precipitadamente certas coisas a seu respeito, o que poderia ser desastroso para seu desenvolvimento no campo da imortalidade.

Rafael comparava-se a uma águia em formação ainda dentro do ovo, à espera do dia em que seria chocado por si mesmo, saindo do ovo para crescer e aprender a voar. Meu pressentimento era de que seu vôo seria tão alto e veloz que, até mesmo entre as outras águias, poucas se equiparariam a ele.

Entretanto, no presente momento, Rafael ainda deveria aprender a sair do ovo e, no tocante a isto, eu pouco poderia fazer. Mesmo no intuito de ajudar, eu não deveria forçar a casca do ovo, pois na verdade isso representaria a causa de sua ruína. Confabulei comigo mesmo, buscando as soluções mais sábias para que pudesse interagir com aquela águia em forma de menino.

Escutei alguém batendo. Já fazia idéia de quem era e abri a porta rapidamente. Rafael, sorridente, cumprimentou-me.
Sentamo-nos e começamos a conversar. De início, pedi a ele que contasse por que se interessava pelos assuntos expostos por mim na noite anterior.
Rafael meditou por poucos momentos e, com expressão séria, falou:
- Já faz algum tempo, talvez um ano, que comecei a passar por experiências incomuns. Eu saía do meu corpo para um outro mundo não-físico e, por meio dessas saídas, iniciei contatos com seres de outros planetas. Esses contatos, em uma fase posterior, aconteceram mesmo sem que eu estivesse dormindo.

Perguntei, curioso:
- Então você os viu aqui no plano físico?
Rafael respondeu, elucidativo:
- Não, eles ficam naquele plano que você chama de astral. Eu os vejo com uma visão não-física, pois mesmo de olhos fechados eu continuo enxergando. A princípio, isso foi motivo de muita alegria para mim, porque eu parecia conhecê-los. Mas, de algum tempo para cá, apareceram outros, dos quais eu não gosto.
- Você sabe quem são esses outros e o motivo pelo qual você se sente mal com sua proximidade? - Perguntei.
- Sim, eles também são de fora da Terra, no entanto são maus e querem me pegar. Por várias vezes já tentaram, e sempre acontece quando eu saio do corpo. Ainda bem que sou ajudado pelos extraterrestres bons.
Fiquei maravilhado com a semelhança das coisas que aconteciam tanto comigo quanto com ele. Suas narrações vinham confirmar minhas intuições e pressentimentos. Rafael realmente era um estrangeiro recém-chegado de outros planetas. Restava-me saber a que Unidade ou Comando ele pertencia.- Você sabe quem você é e de onde você vem? - indaguei. Ele respondeu com segurança:- Sei que não sou daqui, da Terra. Porém, não consigo lembrar quem eu sou ou de onde vim, o que muitas vezes é motivo de tristeza e melancolia no meu dia-a-dia. Fiquei sabendo que alguém estava dando palestras sobre saída do corpo e contatos interplanetários. Interessei-me de imediato, principalmente na esperança de encontrar uma série de respostas que pudessem me ajudar a decifrar os mistérios que envolvem a minha vida há bastante tempo. E foi por isso que procurei você. Será que pode me ajudar? Muito alegre, respondi:- Farei o que estiver ao meu alcance. A primeira recomendação que lhe faço é que tenha paciência, sem tornar-se ocioso. Procure desenvolver um ritmo de descobertas que não o tirem da realidade que está vivendo. Este será o primeiro passo para o auto-descobrimento. Não pense que eu lhe darei prontas as respostas acerca do seu passado. Caberá a você mesmo descobri-las e, neste caso, o tempo é o seu melhor amigo, pois ele conspira com a vida para que ela coloque importantes acontecimentos no caminho da sua existência. Por alguns instantes ele ficou calado. Seu rosto ensimesmado denunciava a profunda meditação em que submergira sua alma. Respeitei este silêncio solene, até que sua voz resignada veio à tona:- A cada dia que passa, percebo que minha vida vai se transformando, conduzindo-me mais e mais para o meu destino. Por muitas vezes, senti que algo queria nascer dentro de mim, mas até agora nada acontecia. Isso faz com que eu me sinta tão impotente como se estivesse preso em uma camisa de força. Realmente, preciso aprender a ter paciência, senão posso acabar enlouquecendo de tanta ansiedade. Dei um sorriso e falei:- Não se preocupe, meu caro Rafael! Também já passei por situações parecidas com a que você está vivendo e posso lhe assegurar que, mesmo quando as respostas forem encontradas, ainda não ficará totalmente satisfeito, pois surgirá um novo mistério para você decifrar. Por isso é tão importante saber esperar por aquilo que está acima da nossa vontade. Ele deu um profundo suspiro, dizendo:- Vejo que você sabe o que se passa comigo. Como consegue?- Não é difícil, pois está escrito em sua alma. Basta ler! - respondi.- Você pode me ensinar a ler o que está escrito na alma?- Não é uma coisa tão simples, e muito menos possível de ser ensinada por alguém que não seja a própria pessoa. Rafael ficou intrigado, a expressão do seu rosto ficou confusa e, sem que eu pretendesse, li seus pensamentos. Ele estava questionando como poderia um analfabeto aprender a ler consigo mesmo. Achava a idéia absurda. Assim que ele formulou o pensamento, falei de repente:- Não, não é absurdo. Explicarei mais claramente: os seres humanos, como todos os outros de toda a Criação, possui uma essência imortal, que podemos chamar de Eu Superior. Aquele que entra em contato com seu próprio Eu Superior, aprenderá, com ele, a ler almas. Rafael, naquele dia, não compreendeu a profundidade das explicações. O que o deixou bastante impressionado foi o fato de eu ter lido seu pensamento. Para mim, isso não representou uma decepção, pois não se espera que um pássaro possa voar estando dentro do ovo. Nosso encontro naquele tarde chuvosa de inverno servira para reforçar em mim a certeza de que tinha acontecido uma vinda em massa de seres interplanetários, de mundos mais evoluídos, nascendo em corpos da Terra. Durante a noite, foi possível descobrir a verdadeira identidade de Rafael. Projetando-me para fora do corpo físico, segui, sem dificuldade, o rastro de sua vibração individual. Para encontrá-lo, preferi teleportar-me para o local em que ele estava. Surgi dentro de uma nave espacial, cuja cor predominante era azul celeste. Encontrei Rafael, que mostrava-se aos meus olhos com um corpo de outro planeta. Aproximei-me dele, cumprimentando-o. Perguntei a ele qual era sua posição de ação com os extraterrestres. Telepaticamente, ele respondeu:- Aqui meu nome é Monadron. Sou comandante de uma equipe tática da Unidade Azul do Comando Ashtar. Também estamos atuando na Missão Terra. Meu comunicador tocou. Atendi rapidamente e fui informado por Sion que eu estava sendo aguardado no Cruzador para a missão daquela noite. Despedi-me de Rafael. Os fogos de artifício iluminavam o céu anunciando o limiar de um ano novo. Ignorando a data festiva, dormia em meu quarto, quando subitamente fui acordado pelo barulho de um foguete que parecia ter estourado em minha janela. Levantei-me para verificar. Era uma aglomeração de pessoas soltando fogos comemorativos. Fiquei acordado até que, finalmente, o foguetório acabou. Deitei-me novamente. Suavemente, comecei a sair do corpo, flutuando uns dois palmos de onde estava. Permaneci por alguns segundos deleitando-me com o prazer da leveza libertadora do meu corpo mais sutil.

Do teto do quarto desceu um raio branco de energia. Ao ser envolvido por ele, perdi a consciência. Quando dei por mim, abri meus olhos e vi que me encontrava em uma paisagem estranha que, de imediato, não reconheci como meu país natal.
O sol se punha, produzindo no firmamento um dourado crepuscular. De pé no topo de um pequeno morro, podia avistar ao longe um declive enfeitado com uma rarefeita plantação de oliveiras. Suas folhas balançavam ao serem tocadas por uma suave brisa que dava vida àquele lugar distante.
De onde estava, avistei a certa distância três torres formando um amplo triângulo. Pensei comigo mesmo: "O que estou fazendo aqui?"
Uma voz surgiu em minha cabeça. Logo percebi que era Sion, comunicando-se do Cruzador. Suas primeiras palavras foram: "Acionei a armadura do implante". Segui imediatamente sua instrução.
Minha identidade continuava sendo a de Aldomon, com leves e repentinas influências dos poderes que tinha quando me chamava Alderan. Desta forma, ou seja, já que estava com o nível consciencial de Aldomon, o comando da Unidade Prata automaticamente foi transferido para meu primeiro imediato: Sion.
Na situação em que me encontrava naquele momento, precisava receber diretrizes de ação enviadas do Cruzador.
Logo após ativar a armadura, pude ouvir em meu capacete os planos do que eu estava fazendo ali. Parte da informação veio por via auditiva e o restante por fluxo mental - uma espécie de transferência de dados em blocos de memória que levam em si enorme quantidade de informações.

Eu havia sido transportado no tempo. Viajara quase dois mil anos para o passado, e estava em uma cidadezinha próxima a Jerusalém.
Minha missão ali era escutar um sacerdote que teria um relevante papel junto à disseminação do Cristianismo recém-nascido. No entanto, ele ainda pertencia a um conselho sacerdotal de um importante templo de Jerusalém, formado por devotos da religião de Moisés.

Restrita aos parâmetros antigos de Moisés, esta casta sacerdotal combatia violentamente as idéias revolucionárias e inovadoras do pregador Jesus, a quem muitos chamavam de enviado de Deus.

A tarefa que eu deveria realizar junto ao sacerdote escolhido era a de protegê-lo de uma falange de seres sombrios enquanto participasse, fora do seu corpo físico, de um debate no mundo astral, ao qual Jesus iria comparecer.
Parti rumo à cidadela onde era localizada a sinagoga do sacerdote. Para não chamar a atenção dos habitantes astrais daquele tempo, vesti um manto por cima da armadura e retirei o capacete podendo, assim, transitar discretamente pela cidade.

Na penumbra do cair da noite, pude avistar o prédio da sinagoga, que ficava em uma ruela tortuosa, próximo a algo que se assemelhava a uma praça. Aproximei-me da fachada esbranquiçada daquela ampla construção e, contornando-a, fui em direção aos fundos, onde sabia ser a casa do sacerdote.

Ao adentrá-la através da parede, tive diante dos meus olhos um ambiente rústico, porém um tanto suntuoso. Ao vasculhar a casa, encontrei a quem procurava.

Ele estava sentado ao centro de uma pesada mesa, de vultuosa madeira avermelhada. Tratava-se de um homem de perfil sério e respeitável, revirando as páginas de um massudo livro, de papel bastante envelhecido pelo tempo.

Franzindo a testa, procurava algo por entre as páginas manuscritas, com seu olhar atento e compenetrado. Porém, pela sua angústia, parecia não encontrar aquilo que buscava tão insistentemente naquelas folhas amareladas.

Sobre a mesa, uma taça e um jarro de metal polido dividiam o espaço com as lamparinas de chamas esvoaçantes. Aquele homem robusto, com cerca de cinqüenta anos de idade, possuía um ar de autoridade adquirida ao longo dos anos. Talvez eu tenha tido esta impressão pelo aspecto singular de sua aparência.

Tomava alguns goles de vinho e, de tempos em tempos, voltava a encher a taça com o conteúdo do jarro metálico. O sacerdote não notava minha presença, sendo que ele se encontrava no mundo físico e eu no astral.

O tempo da minha tarefa estava se esvaindo. Eu precisava tirá-lo do seu corpo o mais rápido possível, entretanto ele não mostrava quaisquer sinas de sono naquele momento.

Tive, então, uma idéia: entrei em contato com o Cruzador e pedi que me enviassem um sonífero. Instantaneamente um frasco surgiu em minha mão. Destampei o recipiente e derramei o sonífero na taça de vinho.

O resultado foi rápido. Após um gole de vinho, o homem não resistiu à sonolência e dormiu, debruçando-se por sobre a mesa.
Em breves instantes, puxei-o para a dimensão em que eu estava. No início, ele ficou um pouco exaltado e confuso por ter sido tirado para fora de seu corpo, ainda mais por um estranho. Mas, sem dificuldades, ele compreendeu que eu não queria lhe fazer mal algum.
Expliquei a ele a importância de sua presença no debate de Jesus. Como há certo tempo o sacerdote mostrava ser um simpatizante dos conceitos pregados pelo jovem galileu, aceitou o convite sem objeções.
Levá-lo até o local do evento seria um tanto trabalhoso, pois entidades sombrias anti-Crísticas souberam que aquele homem desempenharia importante papel junto ao Cristianismo. Tentariam, desta forma, fazer tudo que estivesse a seu alcance para impedir o seu encontro com o grande Mestre, nos preparativos para uma nova fase religiosa no planeta.

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