terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Unidade Prata - parte 5

UNIDADE PRATA

Aldomon Ferreira

Porém, acima de qualquer coisa, eu estava seguro de que cumpriria minha missão. Pensava comigo mesmo: "Por Deus, eu o levarei a salvo ao encontro do Mestre."
Partimos em direção às três torres, onde aconteceria o debate. Cinco quilômetros nos separavam delas. Se fôssemos de nave, em poucos segundos estaríamos lá. Entretanto, a tarefa que me fora entregue consistia em um teste, no qual eu deveria enfrentar certas limitações e, mesmo assim, cumprir o que fora determinado.
Pegamos uma trilha que nos levaria ao nosso destino. Caminhamos a passos rápidos.
No mundo astral daquela dimensão também era noite. Para evitar que chamássemos atenção dos seres que habitavam aquele ambiente, não foi usada qualquer forma de luz para iluminar o caminho. Fiz aparecer uns óculos próprios para enxergar no escuro.
Comunicava-me com o sacerdote por meio de telepatia, visto que eu não sabia expressar-me verbalmente em aramaico. Pedi a ele que colocasse os óculos. O homem da antigüidade ficou fascinado com a tecnologia moderna que o possibilitou ver naquele breu quase total.

Coloquei meu capacete prateado, cobrindo-o com o capuz do manto cor-de-terra. Alertei meu protegido de que talvez houvesse luta, mas que ele não se preocupasse, pois eu estava ali para garantir-lhe a segurança. Inseguro, ele falou:
- E se forem muitos, o que vai fazer? Você é apenas um homem!
- Tenha fé, homem! No futuro precisará de muita coragem em sua missão! falei com firmeza e bom-humor.
Ele foi tomado por um silêncio inquebrantável, e assim permaneceu durante o primeiro quilômetro de caminhada.
Escutamos um barulho alto de revoada e, simultaneamente, olhamos para cima. O sacerdote ficou muito receoso. O barulho que ouvíramos partia das asas de um bando de seres das sombras que, ao descobrirem a identidade de quem eu escoltava, por tudo quiseram capturá-lo. Num vôo rasante, suas garras pontiagudas pretendiam transformar meu protegido numa valiosa presa.

Desceram sobre nós com toda velocidade, mas uma inesperada surpresa já os aguardava: ao descerem até uns quatro metros de nós, levaram um impacto tão estrondoso que pareciam ter batido em uma parede rochosa. Isso aconteceu porque, assim que registrei sua aproximação, ativei um escudo eletromagnético à nossa volta. Pelo fato do escudo ser quase totalmente transparente, os seres sombrios não o viram.
De um compartimento na armadura, retirei uma pistola laser e, com tiros certeiros, abati o restante dos seres que nos atacavam.
Falei ao sacerdote que o levaria em meus braços, para que pudéssemos ser mais rápidos. A coisa poderia ficar mais feia ainda, já que as sombras descobriram que ele estava indo encontrar-se com o grande Mestre.

Segurei o homem em meus braços e saí correndo, quase tão veloz quanto um relâmpago. Em poucos segundos estava prestes a entrar no perímetro de segurança das torres quando, de repente, saiu de dentro do chão um imenso dragão. Desta vez quem levou um grande impacto fui eu.

Caí de um lado e o sacerdote do outro. Nenhum de nós saiu machucado com a trombada. Meu protegido ficou apenas um pouco assustado com o tamanho da criatura.

Num reflexo automático, puxei a pistola e dei vários tiros no dragão. Contudo, os raios não conseguiam derrubá-lo, apenas o deixando cada vez mais irritado. Foi neste momento que ele rompeu meu escudo.

Fui violentamente agarrado pela boca do dragão, o qual tentou, com toda sua força, cravar seus dentes em mim. Embora minha armadura fosse praticamente impenetrável, senti que havia perdido o controle da situação. Com uma espada toda feita de diamante, cujo punho veio por entre meus dedos. Segurei-a com firmeza e senti o seu poder.

Ela soltou uma tremenda descarga elétrica e o dragão caiu no chão tonto e desnorteado, deixando que eu escapulisse. Sem dar-lhe tempo para reagir, dilacerei-o com a espada, restando apenas seus fragmentos no chão.
Como eu não precisasse mais dela, a espada desintegrou-se.
O sacerdote ficou estupefato com a luta titânica mas, com algumas palavras de serenidade, pude tranqüilizá-lo e conduzi-lo.
Finalmente chegamos ao pé de uma das torres.
Fiz aparecer um manto branco, o qual veio teleportado do Cruzador. Tirei meu capacete e vesti o manto. Fomos teleportados para o interior da torre, aparecendo em seu topo.
Era uma ampla sala, cujo núcleo era preenchido com uma larga pirâmide de pedra polida, levemente esverdeada. Sua altura era de aproximadamente um metro. À sua volta já se encontravam dez pessoas.

Jesus, o personificador do Cristo Cósmico na Terra, lá estava, a fim de dar explicações a respeito de sua boa nova aos sacerdotes da antiga religião fundada por Moisés.
Cada pessoa ali presente teria o direito de fazer uma pergunta a Jesus, contanto que esperasse sua vez. Um homem de voz solene anunciava cada pessoa que fosse dirigir a palavra ao grande Mestre. Após um dos sacerdotes ter recebido sua resposta, o direito de pergunta era passado para outra pessoa.
Tomei um choque ao escutar em minha mente as seguintes palavras:
- Agora, o estrangeiro Aldomon dirigirá a palavra ao homem Jesus!

Fiquei por alguns instantes sem conseguir falar. Pensava que estar ali era uma honra que eu não merecia. No entanto eu estava mesmo ali, diante do grande Mestre, a quem eu poderia perguntar algo que há bastante tempo foi, para mim, motivo de dúvida: o porquê dele ter sido sacrificado. Formulei a pergunta com extremo respeito e reverência.
- Mestre, tu bem sabes o destino que te aguarda aqui entre os homens e tens o poder de mudá-lo. Por que escolheste perecer?
O grande homem de olhos infinitamente penetrantes e de suavidade incomum trazia em seu rosto levemente bronzeado a expressão de total segurança e inabalável serenidade. Seu olhar de beatitude dava a impressão de estar envolvido em permanente êxtase. Uma luminosidade dourada e translúcida envolvia o topo de sua cabeça. Jesus irradiava um brilho intenso.
Ele havia entendido minha pergunta, pois parecia perceber que eu vinha do futuro. Sua voz ecoou no amplo recinto:
- Vim trazer uma mensagem aos homens: a da existência do amor incondicional juntamente com a justiça de Deus. Trouxe em mim a manifestação do Cristo. Porém, para que eu sobreviva imortalizado nos tempos, terei que perecer nas mãos da maldade dos homens. Com isso, minha mensagem e minha vida não serão esquecidas perdendo-se no tempo.
Assim que ele concluiu a resposta, inclinei a cabeça em sinal de reverência e partiem seguida.
Teleportei-me
para fora da torre, vindo surgir em uma praça nas proximidades de Jerusalém.
Meditava sobre o encontro que tivera com o grande Iluminado. O propósito dele foi atingido, pois sua mensagem assim como sua vida sobreviveram através dos tempos e provavelmente tornar-se-ão imortais na civilização humana.

Na praça em que apareci, uma nave do Cruzador me aguardava. Em poucos segundos, já estava a bordo do pequeno aparelho triangular.
Pelo monitor visual, vi cinco naves. Elas estavam no mundo astral do Século XX. Decolei e saí da atmosfera, ativando um túnel interdimensional no espaço, através do qual viajei de volta ao presente.
Ao sair do outro lado do túnel espiralado, fui acompanhado pelas naves que estavam à minha espera e seguimos para o Cruzador.
Despertei no corpo físico. Rapidamente levantei da cama e comecei a buscar em minha memória cada detalhe da aventura fora do corpo. Impressionava-me o fato de poder fazer tantas coisas em apenas uma noite. Está é a grande vantagem de se viver em vários mundos, pois podemos evoluir de forma muito mais rápida.

Caminhava pelo parque, às margens de seu lago artificial. O dia estava frio e ventava muito. No céu, promessas de garoa.
Era um hábito agradável ir, de vez em quando, ao parque para meditar. Entre um pensamento e outro, procurava avaliar a trajetória da minha vida até aquele momento. Sentia-me feliz por tudo que fazia, porém ainda não me dava por satisfeito.
Por meio da viagem astral, eu vivia aventuras que, muitas vezes, eram de tirar o fôlego, cujos limites pareciam não existir. A liberdade de ação era quase total. Neste aspecto, sentia-me plenamente realizado.
Entretanto, minha outra vida (no mundo físico) não me parecia ir muito bem. Apesar das palestras quase que diárias e dos constantes contatos com diversas pessoas, a cada dia eu me sentia mais e mais ocioso.
Em minha consciência existia uma insaciável cobrança de produtividade. Queria encontrar mais situações em que pudesse aplicar meus potenciais adormecidos.
A meditação foi se tornando cada vez mais profunda. Dialogava com a voz do meu Eu Superior quando, de repente, uma idéia surgiu em meio aos meus pensamentos: eu poderia trabalhar no treinamento de equipes de viajantes astrais. Nas palestras seriam selecionadas as pessoas nas quais pudesse identificar a possibilidade de se tornarem viajantes.
Encontrar os voluntários não seria difícil, sendo que pessoas com um potencial aflorado costumavam comparecer às palestras. Mas havia um problema: eu precisaria de recursos para as despesas com as instalações, além da disponibilidade de tempo.
Fiquei entusiasmado em poder ensinar, de maneira mais prática e objetiva, a viajar através dos mundos. Voltei para casa com o propósito de começar a entrar em contato com prováveis patrocinadores para o meu trabalho.
Um mês depois já havia selecionado a primeira equipe de treinamento. Eram pessoas de diversas idades. Notei, logo de início, que os níveis conscienciais eram bem heterogêneos, o que viria dificultar bastante o trabalho em conjunto.
A primeira equipe durou aproximadamente dois meses e seus resultados mostravam-se satisfatórios. Contudo, pude constatar a necessidade de formar equipes de vários níveis. Na primeira, eu havia misturado águias a pardais. Voando em alturas e velocidades diferentes, foi um tanto angustiante para ambos os tipos levantarem vôo juntos. Uns eram atrasados pelos outros, os quais ficavam frustrados por não poder acompanhá-los. Aprendi mais uma importante lição: águias não voam com pardais.
Os treinamentos seguintes foram melhorando gradativamente seus resultados e eu conheci pessoas com as quais vivenciei experiências que nos aproximaram pelos laços de afinidade.
Conheci Verônica. Mulher de mente ágil e dinâmica, com uma aguçada inteligência. Além de sua aparência suave e bela, o que realmente me chamou a atenção em nossos primeiros contatos foi o firme propósito de evoluir, coisa que ela já estava fazendo de maneira bastante acelerada.
A viagem astral viera de maneira nata em sua vida, o que dava a ela muita segurança em suas aventuras interdimensionais. Era constante destaque entre os participantes do treinamento, por sua impressionante facilidade de aprender e assimilar os conhecimentos mais complexos, das viagens a outros níveis de realidade. Sua coragem fez com que ingressasse, em breve tempo, na Unidade Prata.
Mesmo após o fim do treinamento da equipe da qual Verônica fazia parte, continuamos mantendo contato.
Certo dia, em que as forças das energias cósmicas pareciam estar bem mais fortes, recebi a visita de Verônica.
Bastante alegre, sentou-se à minha frente e narrou-me uma das várias viagens astrais que fizera:
- Notei que estava projetada para fora do meu corpo. Vestia um uniforme cinza bem claro, feito de um tipo de tecido aderente à pele. Em diversas partes deste traje havia partes metálicas prateadas. Vi uma espécie de distintivo no peito. De repente, escutei uma voz vinda de um pequeno comunicador que eu trazia preso ao meu cinto. Neste instante, minha consciência mudou subitamente, como se eu houvesse me tornado outra pessoa.
Muito atento à história de Verônica, pedi que continuasse.
- Atendi o chamado, no qual alguém informava que uma nave viria me apanhar para partirmos em missão. Depois de algum tempo, fui teleportada e me vi a bordo de uma nave, onde encontrei uma outra mulher trajando o mesmo uniforme, até parecia-se um pouco comigo. Através da janela, percebi que velozmente sobrevoávamos cidades, atravessando também o oceano em questão de segundos. Passando sobre um deserto, avistei um complexo de construções gigantescas. Pousamos a certa distância do local. Ao desembarcarmos, pudemos observar no céu uma frota de pequenas naves triangulares, tais como aquela em que eu estava.
- As naves pousaram próximas a nós e de lá desceram homens e mulheres, vestidos em uniformes de três modelos distintos: uns eram macacões brancos, outros eram armaduras prateadas e os restantes eram iguais ao meu. O comandante da equipe nos reuniu a todos, a fim de passar as instruções. Iríamos nos infiltrar em uma base de extraterrestres negativos, espalhando bombas em pontos-chave, cuja detonação simultânea destruiria todas da instalações. Tratava-se de uma fábrica de armamentos, naves e andróides utilizados em guerras contra as forças da luz. Seria uma importante vitória a destruição daquela base. As instruções chegaram ao fim.
Verônica prosseguiu:
- Das naves foram saindo aparelhos que se assemelhavam a motos magnéticas. A maior parte das motos saiu em direção à base-alvo. Eu estava em uma delas e, ao nos aproximarmos do perímetro de segurança do alvo, descemos das motos e nos camuflamos como trabalhadores da base. Já infiltrados e devidamente espalhados, instalamos as bombas uma a uma. Lembro-me de que, quando começaram as explosões, eu ainda estava lá dentro. Foi quando entrei em contato com as naves que sobrevoavam o céu e fui imediatamente teleportada, aparecendo a salvo no interior de uma delas.
Concluído o relato de Verônica, falei:
- Bem-vinda ao time! Você é uma guerreira dos mundos astrais!
Conversamos mais um pouco, despedindo-nos em seguida.
Ao longo do tempo, foram surgindo diversas pessoas em minha vida que, logo nos primeiros contatos, eu identificava como integrantes dos comandos. Entretanto, raras vezes eu lhes relatava tal fato. Preferia que descobrissem por si mesmas as suas origens, a fim de não se sentirem dependentes de alguém que lhes mostrasse o caminho. Esta é uma tarefa que cabe a cada pessoa, seja ela quem for.
Após um ano e meio de treinamento de equipes, sentia-me exausto deste tipo de trabalho que, apesar de possibilitar-me conhecer pessoas muito interessantes ou poder ajudar outras que precisavam de alguma orientação, ainda não me sentia contente.
Ressurgiu em minha mente um antigo questionamento: "Qual será realmente a minha missão aqui neste mundo?"
Tal interrogação atingia o âmago do meu ser. Queria, por tudo, encontrar a grande resposta, pois minha vida na Terra dependeria dela.

Os dias de hiper-atividade foram gradualmente se perdendo no passado. As palestras tornavam-se cada vez mais raras e os treinamentos estavam parados. Paulatinamente fui vestindo uma máscara de cidadão comum. Esta foi a maneira de sair em busca da missão, meta que transformara-se em minha razão de viver.
Todavia, novos fatos surgiram e o tempo inevitavelmente colocou-me diante de difíceis encruzilhadas. Não estava me adaptando ao modo de vida da Terra, principalmente no que se referia a valores existenciais.
As pessoas que comigo conviviam cobravam-me, de certa forma, que eu tivesse um comportamento-padrão, similar ao da maioria. Diante do mundo, eu me mostrava um rebelde aos costumes tradicionais. Porém, havia atingido uma idade que me impunha seguir ou não o secular ritual da humanidade da Terra, cujos princípios básicos eram: nascer, crescer, estudar, escolher uma profissão e preparar-se para o casamento, o que poderia dar origem a uma nova família.
Eu vivia um exaustivo dilema. Não sabia se realmente queria levar adiante os meus estudos para que pudesse escolher alguma especialidade acadêmica. Isso tornava-se cada vez mais um motivo de intermináveis indecisões. Pensava comigo mesmo: "Não posso decidir em quê vou trabalhar enquanto não descobrir qual é a minha missão aqui no mundo físico."
No Mudo astral, uma esquadrilha de pequenas naves cortava velozmente o céu, em formação triangular. Eram vinte caças de cor prata-espelhada. O dia estava lindo, seu brilho resplandecente enchia ainda mais de vida o horizonte azul-celeste.
Saímos da atmosfera rumo à nave de Ashtar. Eu pilotava um dos caças. Como de costume, adentramos uma das milhares de rampas de pouso da nave-mãe. Assim que todos desembarcaram, informei-lhes nosso horário para regressar. Separamo-nos em seguida, pois estávamos ali a fim de cumprirmos diferentes funções.
Teleportei-me para a ponte de controle, em busca de Ashtar. Surgi no centro do controle, cuja predominância de cor era branco-neve. Naquele imenso espaço havia inúmeros aparelhos, quase a perder de vista.
Ashtar, percebendo minha presença, veio ao meu encontro com expressão de alegria. Seu corpo estava com outra forma. Sua constituição física assemelhava-o aos homens da Terra. Seu cabelo castanho-claro, bastante liso, estendia-se até um pouco abaixo dos ombros. Olhos azuis extremamente expressivos e claros, dando-lhe um aspecto jovial. Aparentava ter uns trinta anos. Sua voz soou convidativa:
- Aldomon, tenho um amigo que pediu-me um favor. Ele também é Comandante de uma frota de Cruzadores. Uma de suas Unidades será enviada, em missão, a Universos que eles desconhecem. Também precisarão usar uma tecnologia com a qual não estão familiarizados. Sei que a Unidade Prata conhece tais Universos e domina o uso da tecnologia necessária. Por isso, prometi ao Comandante Toraque a realização do treinamento de uma de suas Unidades. Posso contar com sua ajuda para isso?
Percebendo que Ashtar esperava de mim uma resposta objetiva, falei:
- Estamos à sua disposição, meu caro Comandante. Podemos começar o treinamento assim que desejar.
Ele, então, continuou:
- A Unidade que precisa ser treinada chama-se Canéra, cuja Comandante é Iara. Uma observação: todos os mil integrantes são mulheres.
Perguntei quando elas chegariam para o início do treinamento. Ashtar, animado com minha vontade de começar logo o trabalho, respondeu:

- Daqui a um dia da Terra o Cruzador de Iara colorirá a atmosfera.
Pensei: "Ashtar parece conhecê-la..." Ele leu meu pensamento e disse:
- Sim, eu a conheço. Há alguns séculos, passei por seu planeta e tive a oportunidade de, casualmente, encontrar-me com a Unidade Canéra e assim conhecer Iara. Conversamos por algum tempo e uma das coisas que ela me falou é que já havia ouvido falar muito a respeito da Unidade Prata, que servia sob meu Comando. Pelo que pude perceber, ela parecia ter forte interesse em conhecê-lo.
Ashtar colocou-me a par de todos os dados sobre a Unidade Canéra e informou que, assim que Iara chegasse, seria enviada ao Cruzador Triton, para que tratasse comigo dos planos do treinamento.
Despedi-me de Ashtar e, sem demora, regressei à rampa de pouso e decolagem, onde alguns pilotos da esquadrilha já estavam à minha espera. Através do comunicador, chamei os pilotos que faltavam e, em poucos segundos, estávamos todos subindo a bordo.
Novamente a esquadrilha transpôs o espaço em formação triangular. Por entre os pontos luminosos surgiu o Cruzador Triton, aquela imensidão de metal prateado que, por muitas vezes, parecia ser um espelho cósmico onde as estrelas refletiam entre si o brilho da vida.
Como pássaros voltando ao ninho, penetramos aquela intransponível fortaleza voadora. Descemos dos caças com a alegria costumeira de estarmos de novo em nossa casa. Os pilotos conversavam entre si coisas cotidianas na vida de guerreiros dos mundos. Andando com certa pressa, passei em volta do aglomerado de pilotos.
Depois de trocar meu traje, teleportei-me ao centro de controle. Sion estava dando algumas instruções aos operadores de máquina, mas logo veio perguntar se eu havia me encontrado com Ashtar:
- Novidades, Aldomon?
- Sim, tenho! E boas!
Percebi que todos que estavam na ponte de controle aguçaram seus ouvidos.
- Ajudaremos uma Unidade a aperfeiçoar-se no uso de determinados equipamentos tecnológicos, bem como dar-lhes conhecimento das leis de certos Universos.
Desta vez mais interessado pela novidade, Sion perguntou:
- Quando começaremos o treinamento? Estou ansioso por mais ação!
Pensei no que Sion falou: Ação! Aqui é o que mais temos. Todos os dias e noites são repletos de batalhas. Mas reconheço que nossa Unidade parece não se saciar de trabalho. Expliquei:
- Amanhã o Cruzador da Unidade Canéra chega ao planeta e, após conversar com sua Comandante, saberei quando iniciaremos.
Acordei no mundo físico, guardando em minha memória todos os detalhes do que fizera no outro mundo. Senti uma agradável sensação de ser imortal. Achava que não suportaria viver neste mundo tão limitado se não tivesse a capacidade de sair do corpo.
O dia passou num abrir e fechar de olhos, até que chegou a hora de repousar entre os lençóis.
Assim que deitei, não estava com sono suficiente para dormir. Minha cabeça começou a fervilhar, repleta de pensamentos que me empurraram para dentro de uma estonteante euforia. A vida colocava-me, noite após noite, envolvido a fascinantes aventuras.
O sono veio sem avisar e levou-me em seus braços para fora do corpo. Quando percebi, já estava no mundo astral.
Inclinando a cabeça, verifiquei se estava trajado com o uniforme da Unidade. Sem perda de tempo, chamei uma nave através da telepatia. Flutuei para o alto do prédio em que morava e logo pude avistar a pequena nave, a qual encontrava-se estacionada em pleno ar, à minha espera. Voei até uma de suas portas e, assim que entrei no aparelho, deparei-me com duas confortáveis poltronas.
Sentado em uma delas, coloquei rapidamente meu capacete e segurei com firmeza o mancho de controle, o qual estava acoplado ao painel à minha frente. Um pouco acima do painel, duas telas visuais orientariam meu vôo.
A habilidade de pilotar surgiu em minha mente. Apertei um botão e puxei levemente o mancho para cima, fazendo com que a nave decolasse suavemente.
Em uma das telas gráficas vi um desenho do Cruzador e, na outra, um do pequeno aparelho em que eu estava. Sem dificuldades, apenas segui o roteiro gráfico do monitor, como se eu estivesse em um video-game. Vez ou outra eu olhava através das janelas e observava os continentes se tornando pequenos, lá embaixo. Em breves momentos só era possível identificar, atrás de mim, a esfera azul do planeta Terra.
Uma sensação de liberdade intensificava-se mais e mais, até que minha atenção voltou-se para o Cruzador.
Apesar deste ainda estar a certa distância, fiz a aproximação e, através do comunicador visual, efetuei o contato:
- Solron, aqui é Aldomon. Estou fazendo a manobra de entrada na Rampa 2.
- Afirmativo. Rampa 2 liberada para acesso.
Com destreza e precisão conduzi a espaçonave através do corredor da rampa de pouso e decolagem. Empurrei suavemente o mancho para baixo e pousei.
Até que não era difícil pilotar estando eu com a identidade de Aldomon. Eu havia pilotado sem ter me transformado plenamente em Alderan.
Retirei o capacete e soltei o cinto de segurança. Destravei a porta, empurrando-a para cima. Andando pelo chão metálico, subi alguns degraus e comecei a percorrer os alojamentos dos integrantes da Unidade. Eles se mostravam como uma grande família, cujos motivos da união foram a mútua afinidade do ideal de vida. O Cruzador era um lar que trazia em si um pedaço de lembranças dos mundos em que havíamos vivido. Todos os integrantes da Unidade Prata amavam de corpo e alma os seus trabalhos, sendo capazes de qualquer sacrifício para cumprir a missão que lhes fosse apresentada.
Isto, para mim, era motivo de infinito contentamento. Sempre que possível, compartilhava com eles alguns momentos de companheirismo.
Os extraterrestres que assumiram corpo astral da Terra, ou até mesmo aqueles que nasceram no mundo físico, periodicamente precisavam se alimentar de cotas de energia moduladoras de vibração. Sem tais energias, em breve tempo o corpo astral seria desintegrado, fazendo com que a pessoa voltasse a seu corpo anterior.
Ao passar pelo alojamento, entrei em um refeitório energético. O lugar apresentava, em seus móveis e paredes, suaves tons de azul-metálico, porém o branco era predominante. Balcões compridos, cujos assentos eram ocupados por diversas equipes, contrastando entre si por seus uniformes de diferentes modelos e cores. Em um outro ambiente, um pouco adiante do balcão, havia mesas compridas, também cercadas de assentos que, naquele momento, estavam quase todos vazios.
Avistei Sion em uma das mesas. Aproximei-me, puxando uma cadeira. A conversa começou com uma lembrança minha de um acontecimento passado:
- Hoje chega a Unidade que treinaremos. Ontem não te disse, mas fiquei sabendo que esta Unidade é composta apenas por mulheres e, que na maioria, são oriundas do mesmo planeta.

Prossegui:
- Ainda não faço idéia de qual seja a especialidade das integrantes de Canéra.
Sion olhou-me confiante e expôs seu pensamento:
- Sejam quais forem as habilidades da Unidade Canéra, elas foram suficientes para convencer Ashtar de que conseguiriam passar por nosso treinamento. A propósito: está próxima a hora de sua chegada?
- A qualquer momento! E nós é que iremos recebê-la! - respondi ansioso.
Sion e eu teleportamo-nos para o centro de controle. Calia alertou que um cruzador foi detectado em nossos sensores, o qual, ao ser contatado, se identificou com o nome de Irques, tripulado pela Unidade Canéra, cuja comandante é Iara. Imediatamente informei que o cruzador desconhecido já estava sendo aguardado. Passou um breve espaço de tempo, de repente recebemos a comunicação de que Iara havia chegado ao setor do planeta Terra.
Rapidamente entrei em contato com a unidade Canéra:
- Aqui é Alderan, comandante do Cruzador Triton, solicito a presença da comandante Iara em Triton o mais breve possível.
A imagem feminina que coloria a tela visual verbalizou algumas palavras:
- Comunicarei imediatamente a Iara!
Avistei, através de uma janela, a nave, de gigantesca proporção. O Cruzador Irques também seguia a engenharia geométrica - esta peculiaridade arrancou de mim uma singular admiração. Achei um tanto quanto diferente as cores que eram apresentadas em várias partes do cruzador, eram variadas, muito vivas, fluorescentes, havia partes vermelhas, azuis, verdes, amarelas, pareciam com as cores do arco-íris.
Fui informado de que Iara se teleportaria para o nosso cruzador, para nos encontrar. Com certa pressa trajei a armadura de gala, e pus-me a esperar.
De repente surgiram diante de mim dez lindas mulheres, mas uma delas atingiu profundamente o âmago do meu ser. Foi amor à primeira vista. Assim que fitei seus olhos pretos brilhantes, meu interior estremeceu, fiquei fascinado com sua encantadora beleza, que era celestial e ao mesmo tempo terrena. Fui envolvido por sua expressão meiga, mas que também transmitia energia.
Todas trajavam a mesma roupagem: um tipo de macacão inteiriço, de tecido que se assemelhava a lycra. Ao longo do traje havia divisões de várias cores que eram similares às de seu cruzador.
Seu cabelo, comprido até a cintura, tinha cor de noite sem luar, em seu rosto uma franja milimetricamente acima de suas sobrancelhas, seu rosto de pele clara, estava discretamente rosado. Os traços dos olhos, do nariz como também os da boca eram inacreditavelmente perfeitos. Aquela mulher parecia ter sido criada nas medidas exatas para meus parâmetros.. Seu corpo era esbelto, todas as suas partes eram bem definidas em suave aparência.
Seu rosto esboçou um sorriso, que foi mais e mais tornando-se expressivo, os olhos abriram um pouco mais, dando uma impressão de intimidade e ao mesmo tempo de contentamento. Eu também sorri, então percebi que ela transmitia reciprocidade de sentimentos, fui banhado por seu amor. Escutei sua voz o que me encantou ainda mais:
Creio que você seja Alderan ! Estou certa?
- Absolutamente certa! E você, Iara"! "- Falei-lhe com ternura e carinho.
Ela confirmou com um olhar de cumplicidade. Fitei suas companheiras de equipe e falei descontraidamente:
- Podem ficar à vontade, todas vocês são bem-vindas !
Senti que tanto a sua equipe quanto a minha ficaram surpresas ao perceberem que um clima especial aconteceu entre nós. Pedi a todas que me seguissem, para mostrar-lhes os vários setores do Cruzador, que internamente se parecia com uma pequena cidade eletrônica.
Teleportamo-nos para um dos laboratórios de desenvolvimento tecnológico, onde mostrei a Iara os métodos que eram empregados para transcendermos cada vez mais a eficiência dos equipamentos. Apresentei alguns de nossos recursos, para que pudessem se situar sobre quais seriam os aspectos de manuseio que necessitavam aprender.
Convidei Iara para um passeio ao planeta Terra e ela aceitou sem hesitação. Fomos para uma rampa de decolagem e subimos a bordo de uma pequena espaçonave. Comuniquei ao controle do cruzador que estava partindo para a Terra. A rampa foi aberta e por ela saí rapidamente, tomando a direção da esfera azul que girava a certa distância.
Enquanto eu pilotava, conversava com Iara, e uma das coisas que lhe perguntei foi se já conhecia o planeta que estava prestes a visitar. Ela respondeu-me:
- A alguns milênios atrás, vim aqui como cientista de engenharia genética. A equipe que eu integrava interferiria na genética física dos seres humanos primitivos que povoavam a superfície mas, pelo que posso notar de onde estamos, o planeta mudou bastante, os continentes estão diferentes.
Prontamente expliquei:
- Aconteceu uma alteração no eixo de rotação, isto fez uma profunda mudança geográfica.
Iara transmitia tanta alegria e companheirismo que sua companhia agradava-me cada vez mais, sentia nela um complemento harmonioso, sua mente e seu corpo tinham beleza suficiente para saciar meus parâmetros perfeccionistas. Sua voz transmitia em cada palavra um composto alquímico que me envolvia em um êxtase arrebatador, mas em minha consciência um pensamento de alerta tentava avisar-me: eu e aquela mulher pertencíamos a mundos diferentes. E também, no que se referia a nosso contato, sabia que, assim que sua Unidade terminasse o treinamento, partiriam para um universo tão distante que até mesmo nossos pensamentos teriam que se afastar. Mas já era tarde para tentar escapar do amor que sentia por ela, eu mesmo enredara-me naquele sentimento do qual não conseguia mais desvencilhar. O silêncio da minha profunda introspeção foi suavemente interrompido pela voz afável de Iara a perguntar-me:
- Alderan, por que de repente você pareceu ficar triste?
- Estava pensando em até que preço estou disposto a pagar pelo amor incerto! - Respondi resignado.
Parecendo conhecer o meu íntimo, ela falou com ar convidativo:
- Este amor pode não ser tão incerto e fugaz quanto parece ser!
O aparelho já sobrevoava a superfície da Terra, virei meu olhar em direção ao da minha companheira de vôo, e dando um sorriso misterioso falei:
- Quero levá-la a alguns lugares que para mim são muito especiais.
Primeiramente iríamos a um recanto situado em uma exuberante floresta.

Parte 1 aqui

Parte 2 aqui

Parte 3 aqui

Parte 4 aqui

Visite Unidade Prata - Blog de Aldomon Ferreira


Nenhum comentário:

Postar um comentário