Respirar na sociedade, pode ser como cantar em uma gaiola em que você o pássaro capturado na natureza, primitivus et ingennus, se encontra aprisionado em um espaço limitado e toda vez que tenta bater as asas, acaba batendo nas artificiais grades que te ferem e perturbam. A barreira entre a grade e a liberdade, não é longa, porém sua gaiola foi feita sob medida para você. Toda vez que ousar fugir do destino que aquele que te capturou destinou a ti, perceberá que seu instinto está em um processo de adestramento.

Uma quantidade acumulada de excitação e o sentimento de repressão, vão estar presentes a cada sensação. O entretenimento é você na gaiola, seu dono coloca água, comida, limpa a sujeira do dia a dia e você paga a estadia cantando. Olhares esperam que os entretenha e divirta. Seu canto é a lembrança da liberdade, a forma que muitas vezes se desliga da angústia, seu canto é sua liberdade de expressão.

Sorria, você é mais um na concentração do controle das consciências humanas, sociedade unidimensional da irracionalidade racional. Ela administra seus prazeres e necessidades, fabrica sua fome de consumo, enquanto tua autonomia é assassinada e tua mente violentada. Dominado e doutrinado é o olhar amordaçado que agora olha as estrelas, olhar insaciável, que ao mesmo tempo que busca sente medo de ser livre, se prende a conceitos e preconceitos.

O retorno a liberdade é o sonho daquele que um dia foi capturado em seu estado primitivus et ingennus, onde veritas habitat in interiore homine e a vida flui como uma forte chama na consciência, que se auto descobre na catarse.

*Primitivus et ingennus ? Primitivo e nascido livre
*Veritas habitat in interiore homine ? Verdade habita no interior do homem
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(Texto publicado no fanzine "O Berro" nº 8, junho/2009, caixa postal 100050, Niterói, RJ, Brasil, CEP 24020-971)