- Por Frank -
Fulano diz remédio, Sicrano entende Genésio, você compreende outra coisa.
- Eu mesmo ouvi, moça - já ele entendeu força!
Telefone sem fio: todo mundo segue nessa brincadeira, dizendo o que não ouviu, repassando adiante o que mal escutou.
Como assim, você nunca brincou disso? Todo mundo brinca! Se não agora, brincou na infância, ou, inconscientemente, nas cirandas do repassar a mensagem que lhe disseram em algum lugar lá distante, e você acreditou, repassou.
E outro fez o mesmo, sem se dar conta de que a comunicação falada passa sempre pelo filtro de quem a recebe, a interpreta e reconta - por vezes adultera -, pois, quem conta, sempre aumenta um conto.
E nem lhe conto que boa parte das minhas lembranças é de coisas inventadas, ou de mensagens passadas por outras pessoas, que nem sei bem se repassaram algo ou simplesmente criaram. Daí a minha desconfiança com as mensagens psicografadas.
Se já é difícil repassar a mensagem de quem está vivo, imagine ouvir e decodificar o que se fala do outro lado de lá, da terceira margem do rio, de onde Guimarães e o Meu Tio Joca contavam:
- Ora, lá é um lugar que nem se fala, nem se fala.
Se lá não se fala, como é que há vivos que escutam o que dizem os que moram além da morte? Digo isso, pois meu tio, um dia, disse algo que fez, pra mim, todo o sentido:
- Não acredito que falemos português do lado de lá, pois, em corpo, precisamos da garganta para nos comunicar, mas, quando morremos, a garganta fica no corpo, não é mesmo, menino?
Eu só pude responder:
- Sei lá!
- Deve haver algum outro tipo de comunicação - ele continuou - Só assim daria para explicar como é recebido, no astral, o brasileiro ou o índio, o espanhol ou o mongol. Não é mesmo, menino?
- Sei lá, sei lá!
Porém, devo confessar que sempre pensei nisso toda vez que alguém me dizia que psicografava mensagens dos parentes mortos a quem se pedia um sinal, uma carta, algumas palavras que pudessem demonstrar, provar que o amado falecido continuava vivo e bem.
Lá pelas tantas da minha caminhada espiritual, plantei e semeei alguma certeza de que essas coisas do astral são mesmo reais. Aprendi sobre corpo astral e perispírito. Sei que as mensagens que sopram de lá são coisas sérias, e que elas vêm em bloco, sobrando para o médium a função de fazer o download, traduzir, interpretar e repassar a mensagem. Em outras palavras, vem a ideia, mas as palavras são de quem as recebe. Por isso a minha pulga dançante atrás da moleira, pois, assim como a mensagem entre vivos pode ser uma brincadeira de telefone sem fio, quem diz ouvir o povo do astral pode sempre escutar algo e reproduzir esse algo distorcido.
Eu, tradutor do inglês para o português, sei o quanto é impossível traduzir palavra por palavra. Não dá tempo, não faz sentido! Daí a importância de um bom ouvido e de repassar somente o contexto. Por isso, tome a minha palavra quando eu digo: quem me garante que essas mensagens recebidas pelos médiuns são mesmo idênticas, em conteúdo, ao que foi passado?
O que salva e preserva a minha fé na psicografia é que, volta e meia, e meia volta, surge um profissional da comunicação extrafisíca, um tradutor do astral que consegue captar e psicografar uma mensagem do lado de lá, sem deturpação, sem acrescentar a sua própria opinião, crença, achismo no meio da escrita ou da fala. Esses bons médiuns são poucos, a grande maioria nem está na mídia, e nem vende best-seller espírita, mas são pessoas que aprenderam algo que os distingue dos outros médiuns de meio ouvido: eles aprenderam a escutar, não somente espíritos, mas, principalmente, quem está aqui e está vivo.
São Paulo, 18 de novembro de 2010.
- Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco de Oliveira, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir
Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos.
Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista online de nosso site e em nossa seção de textos periódicos, em meio aos diversos textos já enviados anteriormente. www.ippb.org.br – Outros textos podem ser acessados diretamente em seu blog na Internet: http://cronicasdofrank.blogspot.com
Do Site IPPB
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