domingo, 7 de agosto de 2011

A mágica de fazer ventar

Alexandre Reis

Todos nós, neste mundo, somos seres mágicos. Estamos sempre criando e transformando a nossa realidade, através da aplicação da nossa vontade sobre a vida.

Este poder mágico, no entanto, é maior ou menor conforme o grau de consciência que cada um tem dele. Mas, independente dessa consciência, e também do domínio sobre esse poder, o que conta, acima de tudo, é para qual finalidade o utilizamos.

Algumas pessoas usam o poder que têm para promover suas conveniências, ou para alimentar suas vaidades. Contudo, elas não se dão conta de que, agindo assim, acabam dominadas pelo poder que acreditam dominar, porque o poder embriaga, e todos os que se deixam embriagar por ele passam a ser seus escravos.

Conversando certa vez com uma pessoa, a respeito do poder da vontade, disse-me ela:

- Gostaria de me tornar também um mago.
- E por que você quer se tornar um mago? - perguntei.
- Porque ouvi dizer que os magos têm poderes, e podem até fazer ventar;
e eu acho isso impressionante. Você consegue fazer ventar? - concluiu ela.

Respondi que sim, e que eu iria lhe dar uma prova disso. Antes, porém, lembrei-me de contar-lhe uma história:

Certa vez, quando Buda fazia uma viagem de peregrinação pelo Tibet, chegou a um pequeno vilarejo que ficava às margens de um rio. Ao tomarem conhecimento da ilustre presença do mestre, os moradores foram rapidamente saudá-lo, e principalmente aproveitar tão rara oportunidade de aprenderem um pouco sobre seus ensinamentos.

Buda, então, sentou-se sob a sombra de uma árvore, e pôs-se a conversar com aquelas pessoas, permanecendo ali até o fim da tarde.

Quando já se preparava para ir embora, um homem velho, que havia chegado há poucos minutos, aproximou-se dele e lhe disse:

- Mestre, treinei minha mente e meu corpo durante cinquenta anos, e hoje consigo fazer uma coisa que homem nenhum pode fazer.
- E o que é que podes fazer que nenhum outro homem pode? - perguntou Buda.

O ancião apontou para o rio, que estava a poucos metros dali, e respondeu:

- Estais vendo este rio! Posso atravessá-lo andando sobre suas águas.

Ao ouvirem a insólita história do velho, as pessoas em volta ficaram extremamente curiosas para ver tamanha proeza. Mas Buda respondeu:

- Posso ver que perdeste um precioso tempo de sua vida. Dedicaste cinquenta anos para fazer algo que posso fazer com uma simples moeda em alguns minutos.

Em seguida, Buda retirou uma moeda do bolso e deu-a a um barqueiro, que então o levou até a outra margem, e assim prosseguiu em sua viagem.

Ao terminar a história, levantei-me e liguei o ventilador de teto no máximo, enquanto pensava o quanto ainda era difícil para as pessoas entenderem que o mais importante não é conhecermos mecanismos ocultos do universo, e então sermos capazes de fazer prodígios, mas sim sermos capazes de praticar o bem.

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.(I Coríntios, capítulo 13, versículos 1 e 2)

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