UNIDADE PRATA
Aldomon Ferreira
Base Talha 1 em Metalha
A tarde havia acabado e as primeiras estrelas brilhavam no firmamento. Eu esperava ansioso pela hora de dormir, na expectativa de que voltasse a sair do corpo.
Chegada a hora, deitei-me e esperei que algo acontecesse. Em poucos minutos comecei a sentir coisas estranhas. No início tive a sensação de estar deitado na areia da praia, enquanto ondas de um líquido energético banhavam minhas pernas até envolverem todo o meu corpo.
Surgiu um som dentro da minha cabeça. Parecia uma orquestra de cigarras cantando. O som foi ficando cada vez mais alto e o ritmo acelerou ainda mais. Meu corpo começou a vibrar até que flutuei para fora do corpo. Repetindo a experiência de ver meu corpo deitado logo abaixo de mim, pensei: "A vida esconde tantos mistérios que só o tempo e acontecimentos fantásticos podem revelar."
Jamais, em minha curta vida, sequer imaginei que existissem outros mundos ou universos diferentes daquele em que eu vivia. No entanto, encontrava-me diante de um mundo desconhecido, pronto a ser desbravado.
Passei a noite inteira traçando planos, a fim de estudar o mundo que acabara de descobrir.
O dia estava surgindo nos primeiros raios do nascer do sol e aproximava-se a hora de voltar para o corpo.
Sentado no sofá, pensava como era interessante o fato de que os objetos físicos pudessem ser atravessados. Entretanto, se desejasse, faria com que eles se tornassem impenetráveis, caso contrário eu não poderia estar sentado neste sofá, ou até mesmo afundaria chão adentro.
Eram realmente muitas coisas a aprender nesse novo mundo.
De repente, o inesperado: acordei.
Levantei rapidamente da cama, recapitulei as coisas ocorridas quando estava fora do corpo. Sabia que minha vida mudaria muito se tudo isso continuasse a acontecer.
No trabalho, durante todo o dia, fiquei tentando entender o porquê daquilo estar acontecendo comigo, mas não encontrava nenhuma resposta.
Novamente chegara a hora de dormir. Fui visitado pelo entorpecimento, que arrebatou-me para fora do corpo.
Uma maravilhosa sensação de liberdade e leveza tomou conta de mim. Queria, desta vez, sair de casa e ver como seria o mundo lá fora. Fiquei próximo à parede, preparando-me para atravessá-la.
Devagar, fui enfiando minha cabeça na parede. Vi o reboco, o tijolo, outra vez o reboco, até que avistei a paisagem fora da casa, e atravessei totalmente a parede.
Lá fora estava muito escuro, num breu quase total. Isto chamou-me a atenção. Pensei: "Não sei como, mas consigo sentir que corro perigo aqui. Apesar desta escuridão terrível, tenho que continuar a excursão."
Fui até o portão e fiquei a observar os seres que andavam pela rua. Notei que a maioria deles tinha parte do corpo com forma de animal.
Estando na rua, fui inesperadamente abraçado por uma mulher muito bonita, que estava totalmente despida.
Quando dei por mim, estava todo amarrado, como se estivesse num casulo de cordas. A mulher ficou na minha frente e começou a transfigurar-se, tomando uma forma animalesca.
De repente, estava cercado por seres trevosos, que sugaram minhas energias vitais, machucando-me muito.
Entrei em pânico e, após me debater no chão, consegui soltar as cordas que me prendiam. Instantaneamente voltei ao corpo físico.
Acordei com medo e muito assustado. Apesar de ainda ser noite, não quis voltar a dormir. Fiquei sentado, ou até mesmo andando, com receio de pegar no sono e sair do corpo outra vez.
O sol estava nascendo e o meu semblante denunciava a noite perturbada que eu havia passado. Durante o dia tive várias sensações estranhas. Fiquei, de certa forma, traumatizado com o ocorrido.
A próxima noite estava por vir. O medo tomou conta de mim. Pensei: "Não posso dormir, senão uma surra me espera lá fora do corpo."
Com muita dificuldade, fiquei acordado a noite inteira.
Após uma noite e meia sem dormir, via-me inseguro se conseguiria passar outras tantas horas sem cair no sono.
Sem que fosse do meu desejo, fui envolvido pelo entorpecimento que veio ejetar-me para fora do corpo.
Ao sair, fui recepcionado pelos mesmos seres que outrora me machucaram.
Durante vários dias, bastava que eu saísse do corpo para ser agredido e energeticamente sugado por entidades negativas.
Fui ficando doente e anêmico, até que um dia, farto de tanto ser atacado, resolvi mudar a situação.
Primeiramente, comecei a observar todos os meus pensamentos, sentimentos, atos e palavras. Estudei cada ação minha, chegando, enfim, a uma conclusão.
O motivo pelo qual eu estava sempre sendo atacado era o desequilíbrio interior.
Seria necessário que eu começasse um trabalho radical de educação das minhas emoções e dos instintos animalizados para, com isso, poder sair do corpo sem ser molestado.
Durante os dias que se seguiram, passei a realizar tal trabalho. Percebi que não bastava apenas reprimir minhas emoções. Precisava educá-las, substituindo comportamentos destrutivos por positivos.
Em dois meses havia conseguido, com meu novo comportamento, a libertação dos ataques trevosos. A partir daí, sempre que saía do corpo físico, ia para dimensões mais sutis. Contudo, ainda não sabia o que fazer com esta minha capacidade.
Certo dia conversava com um amigo e, distraído, disse a ele que conseguia sair do corpo e ir aonde quisesse. Após algumas gargalhadas, ele olhou-me e disse:
- Você está vendo muita televisão!
Com a expressão séria e ar solene, fixando-me em seus olhos, disse:
- Você que é meu amigo e me conhece, não acredita em mim. Imagine o que dirão aqueles que não me conhecem!
- Dirão que você está com um parafuso a menos na cabeça! - retrucou.
Desafiando-o, perguntei:
- E se eu der uma prova do que falo, você acreditaria em mim?
Ele concordou, mas quis saber como eu provaria que realmente saía do corpo.
- Posso hoje, durante a noite, visitar a sua casa e observar tudo que você fizer, para depois confirmarmos.
Com a aprovação dele, combinamos a hora exata para a "visita".
Quando chegou a noite, eu saí do corpo minutos antes do horário marcado. Fui à casa do meu amigo e, chegando lá, percebi que ele não estava. Fiquei em seu quarto, esperando que ele chegasse.
Ouvi barulhos de passos e a porta se abriu. Era o próprio, entrando no quarto e fazendo palhaçadas:
- Aldomon-Fantasma! Você está aí? Dê-me um sinal! - falou com zombaria.
Pensei comigo mesmo: "Se eu pudesse, te daria um susto inesquecível!"
Fixando uma folha de papel à parede com fita adesiva, ele escreveu algumas palavras e disse:
- Aldomon, se amanhã você falar as palavras que estão escritas aqui, eu acreditarei que você, de fato, sai do corpo.
No dia seguinte, eu o encontrei. As primeiras palavras que pronunciei foram as escritas por ele naquele papel.
Meu amigo ficou chocado e prometeu ajudar-me a descobrir coisas sobre saídas do corpo.
O tempo passou e senti uma misteriosa vontade de mudar para Brasília, o que veio acontecer em alguns dias.
Já em Brasília, através de uma apostila que me foi fornecida por um amigo, pude conhecer melhor a ciência que estuda a saída do corpo. Li atentamente seu conteúdo, até encontrar a parte em que constava o nome do representante da instituição que publicara a apostila.
Durante algum tempo, mantive inúmeros contatos com o professor, o qual me ensinou o que fazer com a saída do corpo (também chamada de projeção astral).
Certa noite, após deixar meu corpo físico, escutei um barulho incomum que parecia vir do céu. Luzes douradas entravam pela janela e me ofuscavam a visão.
Não senti medo em saber de onde vinham as luzes e o barulho pois, no meu íntimo, tinha a sensação de já ter vivido muitos encontros, com aquilo que parecia ser uma nave espacial. Tal sensação passava-me imperturbável segurança.
Um círculo dourado começou a brilhar no teto da casa, até que por ele desceu um raio cilíndrico de energia dourada. De dentro deste cilindro, saíram dois seres vestidos em macacões prateados. Suas cabeças estavam cobertas por capuzes da mesma cor, os quais tinham visores escuros na altura dos olhos.
Ambos retiraram seus capuzes. Eram uma mulher e um homem, que transpareciam uma altíssima evolução.
Seus traços eram perfeitos. Cabelos dourados como ouro e olhos de um azul celeste resplandecente.
A mulher veio até mim e falou:
- Aldomon, já chegou o tempo de despertar a memória de sua consciência adormecida.
Perguntei:
- Quem são vocês? Eu não estou entendendo o que querem dizer.
Então veio a explicação:
- Fazemos parte de um comando extraterrestre, do qual você também faz parte. Mas, infelizmente, ao nascer em um corpo da Terra, você ficou temporariamente com amnésia interdimensional.
Continuei ouvindo atentamente:
- Seu despertar é exatamente recobrar parte da memória que possuía antes de nascer aqui neste planeta. Você tem uma missão a cumprir no plano físico e, para isso, sua preparação começa agora. A cada noite em que você se projetar, será submetido a um tratamento intensivo.
Indaguei a respeito do treinamento, e me disseram que seria de tantas maneiras, que eu ainda não conseguiria compreender suas explicações.
A mulher tirou do bolso de seu macacão um pequeno aparelho, parecido com um relógio de pulso sendo que, no lugar dos ponteiros, havia apenas um botão.
Ela explicou-me que aquele aparelho estava ligado a uma nave, que enviaria energia quando ele fosse acionado. Pediu que eu estendesse o braço para adaptá-lo ao meu pulso.
Intuitivamente, senti que poderia confiar neles. Era como se já os conhecesse há bastante tempo.
Após colocar o aparelho, eles se despediram e desapareceram junto com o raio de energia dourada.
Voltei para o corpo físico. Ainda era madrugada e, antes que voltasse a pegar no sono, pensei por alguns instantes no aparelho que acabara de receber.
O treinamento fora do corpo tornava-se a cada dia mais intenso, através de vários instrutores astrais.
Em uma noite aprendia defesa e ataque energético; na noite seguinte aprendia a fazer mudanças dimensionais.
As semanas foram passando, até que comecei, efetivamente, a trabalhar fora do físico.
Em uma das minhas projeções astrais, andava por uma rua da quinta dimensão quando, sem que eu esperasse, escutei uma voz metálica ao meu ouvido:
- Aldomon, precisamos de você. Aperte o botão do aparelho que está em seu pulso para que o sistema de combate seja acionado.
Segui as instruções recebidas, e vi minhas mãos começando a brilhar. Um reflexo fez com que, automaticamente, eu colocasse as mãos em volta da cabeça.
Ao fazer este movimento, dois raios elétricos saíram das minhas mãos, entraram por minha cabeça e desceram por todo o corpo.
Baixei os braços, sentindo que meu corpo estava ficando rígido como se fosse feito de aço. Em seguida, comecei a girar e tudo escureceu.
Quando dei por mim, estava em uma sala com pouquíssima luminosidade. As paredes pareciam ser feitas de algum tipo de metal cinza-escuro.
Rapidamente, a parede foi quebrada por uma criatura que tinha a forma descomunal. Calculei uns três metros de altura por dois de largura. Sua aparência era monstruosa e eu sabia que ele queria me pegar.
Antes que ele percebesse, agi rápido como um relâmpago, pegando um dos braços da criatura e arremessando-a para longe.
Pensei: "Nossa! Como a energia do aparelho me fez ficar forte! Aquele ser parecia leve como isopor!"
Saí correndo da sala passando pelo buraco que fora feito na parede.
Subitamente, percebi o que estava acontecendo, através de informações que vinham do meu inconsciente astral, e indicavam que eu me encontrava dentro de uma base negativa e que deveria aprisionar todos os que fizessem parte daquela organização.
Percorri um longo corredor, até que avistei perto da parede, à minha direita, gigantescos tubos de ensaio. Tinham de três a quatro metros de altura e dois a três metros de largura.
Alguns continham criaturas ainda em formação, as quais estavam sendo geradasem laboratório.
Feixes de raios vermelhos cruzaram o corredor tentando me atingir. Notei que os soldados seguravam bastões de onde os raios saíam.
Um deles acertou-me com um raio, porém nada senti. Assim sendo, corri em sua direção e derrubei-o com um golpe. Tomei seu bastão e segui velozmente pelo corredor. Usando o bastão, atirei nos soldados que encontrava pela frente.
Chegando a um local que parecia ser a portaria do prédio, deparei-me com quatro portas feitas de material transparente que, por sinal, era muito resistente.
Fui cercado por muitos soldados e, novamente, houve luta corporal.
Entretanto, a minha força era tanta que podia arremessar os oponentes a muitos metros de distância.
Após vencer todos que estavam nas proximidades da portaria, fui correndo rumo à porta, com a intenção de derrubá-la.
Ao receber o impacto do meu corpo, a enorme porta tombou ao chão, com um barulho trovejante. Apressado, passei por cima dela e dirigi-me à cerca de arame que havia em volta do prédio.
Estrondosos tiros de metralhadoras foram disparados aproximadamente a duzentos metros além da cerca.
Aproximando-me, pude identificar um outro exército tentando entrar na base, todavia estavam sendo impedidos pela segurança da base, cujo esquema envolvia também um campo-de-força eletromagnético instalado na cerca.
Ocorreu-me que poderia pular ou derrubar a cerca. Preferi derrubá-la, mas para tal, precisava concentrar-me a fim de aumentar o campo eletromagnético da minha aura.
Toquei a cerca com as mãos e dei uma descarga de energia psico-elétrica. Com isso, o campo eletromagnético foi desativado e pude derrubar parte da cerca.
Pude observar dezenas de soldados, vestidos em macacões de cor azul-celeste, atirando no prédio com metralhadoras. Não tive receio algum, pois sabia que eles estavam do meu lado.
Foram, então, atravessando a cerca derrubada. O comandante do pelotão azul veio até mim e falou:
- Graças a Deus atenderam nosso pedido de socorro e enviaram você aqui! A coisa estava realmente feia, pois há dias estamos tentando entrar nesta base científica das trevas.
Expliquei:
- Meu nome é Aldomon. Estava andando perto da minha casa, quando algumas coisas aconteceram e, de repente, vim parar aqui. Nem mesmo sei onde estou, apesar de saber que vocês também fazem parte do Exército da Luz.
- Você está na América Central, ajudando-nos a destruir uma organização muito perigosa. Já faz alguns anos que vários integrantes desta organização trabalham no desenvolvimento de criaturas muito fortes que, geralmente, são utilizadas por comandos mafiosos para amedrontar e controlar os habitantes de certas regiões de vários países, chegando até mesmo ao ponto de controlar habitantes do plano físico.
Enquanto fiquei conversando com o comandante azul, seus soldados levavam os prisioneiros para os veículos. Ao mesmo tempo, outros soldados preparavam explosivos para destruir o prédio da base negativa.
De repente, um estrondo. O prédio virou poeira depois da explosão.
Notei que também havia algumas mulheres entre os soldados do pelotão azul. Uma delas, que parecia ser a mais experiente, veio em minha direção. Percebi um certo ar de curiosidade em seu rosto. Ao aproximar-se, perguntou:
- De onde você vem?
"- Do Brasil. Você conhece?" - respondi atencioso.
- Sim, já estive por lá algumas vezes. Você fez um belo trabalho aqui. Onde aprendeu a lutar daquele jeito?
Um pouco confuso, disse:
- Não sei. Estou vivendo no mundo físico, mas ainda não recobrei a memória das vidas anteriores. Vez ou outra acontece de eu fazer coisas que não sei onde ou quando aprendi. Mistérios como este às vezes me deixam bastante confuso.
Ela sorriu e perguntou:
- Qual é o seu nome?
- Aldomon. E o seu?
- Simone.
- Muito prazer em conhecê-la. Apareça no Brasil qualquer dia destes para conversarmos mais! - falei, bem-humorado.
Uma nave triangular pairou no céu logo acima de mim. Despedi-me do comandante azul e de Simone para, em seguida, teleportar-me para a nave.
Já estando sentado na poltrona do controle, notei que estava sozinho. A nave havia chegado ali através do piloto automático. Refleti: "Eu não sei pilotar nave! O que vou fazer agora?"
Instantaneamente, uma voz apareceu dentro da minha cabeça, orientando-me:
- Eleve seu padrão vibracional para que eu possa entrar em sintonia com você.
Perguntei quem estava falando comigo, quando a voz interior me explicou que era a consciência do meu corpo mais sutil.
Obedeci às instruções e elevei meu padrão vibracional.
Subitamente, minha consciência começou a mudar e, como num toque de mágica, eu sabia como pilotar. Ajustei os controles e parti rumo ao Brasil.
A noite estava estrelada e havia pouquíssimas nuvens no céu. Alguns poucos seres voavam pelo firmamento e não detectei presença de outras naves nas proximidades da rota de vôo.
Pelo monitor, avistei a Floresta Amazônica e, num instante, estava sobrevoando o Brasil.
Parei a nave um pouco acima da minha casa e voltei para o corpo físico rapidamente.
Acordei envolvido por uma imensa satisfação.
Havia meses que quase todas as noites, eu usava o aparelho adaptado ao meu pulso em batalhas contra as trevas.
No final do ano, viajei de férias.
Em uma das cidades em que fiquei pude perceber que, mesmo estando no corpo físico, as vibrações astrais da região eram muito baixas.
Certa noite, ao projetar-me, fui atacado por entidades agressivas. Pensei que fosse fácil vencê-las. Bastaria que ativasse o energizador para ficar super forte.
Olhei para o meu pulso, à procura do pequeno aparelho. Fui surpreendido, pois ele não estava mais lá. Fiquei pensativo, afinal apenas os extraterrestres conseguiriam retirá-lo.
Estando eu em desvantagem, voltei para o corpo físico instantaneamente.
Enquanto não esclarecia com os extraterrestres o desaparecimento do aparelho, passei algumas noites projetando-me apenas para dimensões astrais mais sutis, onde não corria o risco de ser atacado.
Terminadas as férias, regressei a Brasília.
Minha primeira noite após a chegada, saí do corpo e encontrei novamente a mulher extraterrestre que havia colocado o aparelho em mim.
- É necessário que você desenvolva sua própria fonte de energia.
- Mas, de onde vou retirar tanta energia? - perguntei, curioso.
Sorridente, ela respondeu:
- Você ainda irá descobrir muitas coisas sobre si mesmo. Coisas que foram esquecidas devido à amnésia temporária. Ao longo de várias vidas, você adquiriu diversas capacidades, as quais foram adormecidas no esquecimento.
Um pouco confuso e cheio de curiosidade, insisti em perguntar de onde viria a energia que passaria a alimentar meus poderes fora do corpo. Atenciosa, ela respondeu:
- Você irá desenvolver uma energia conhecida no plano físico como Kundalini.
- Como irei conhecer essa energia? - perguntei.
Percebi que os olhos dela brilharam, pois havia notado meu sincero interesse.
- Procure mais informações no plano físico a respeito dessa energia, e prepare-se para ativá-la em si próprio.
A mulher espacial despediu-se de mim e desapareceu dentro de um espiral de energia brilhante.
Pela manhã, já no corpo físico, lembrei que tinha um amigo conhecedor de coisas esotéricas. Era bem provável que ele soubesse algo sobre a energia Kundalini.
Quando pude encontrá-lo, tive a oportunidade de coletar nomes de alguns livros existentes, em língua portuguesa, nos quais constavam informações sobre a Kundalini, uma energia bastante desconhecida no Ocidente.
Li atentamente os livros, mas fiquei decepcionado. Nenhum deles passava técnicas de como lidar diretamente com a referida energia.
Um deles, chamava-se "O Despertar da Kundalini".
Neste livro, aprendi teoricamente que a Kundalini é uma energia ígnea muito poderosa, que sobe da base da coluna vertebral até o topo da cabeça, onde circula, para depois regressar à base da coluna.
Também constava que a Kundalini, quando despertada em plena harmonia, pode provocar o surgimento de diversas faculdades psíquicas (paranormais). Porém, se despertada de maneira errada, provoca terríveis desequilíbrios, que poderiam ser de ordem mental ou até mesmo causar a morte física.
Concluída a leitura do livro, acreditei ainda serem insuficientes as informações nele contidas.
Em uma noite em que o céu transbordava de estrelas cintilantes, fui arrebatado suavemente para fora do corpo. Notei que a vibração da dimensão astral em que me encontrava era bastante alta. Procurei senti-la apuradamente, a fim de identificá-la. Já sabia que estava na décima dimensão, onde conseguiria voar ou materializar energias psíquicas.
Atravessei rapidamente o teto da casa, voando em direção ao céu. Fiquei extasiado com a beleza das estrelas.
Expandi minha visão, e pude avistar uma infinidade de galáxias espalhadas ao longo do Universo. Pude refletir: "Diante da liberdade que tenho agora, contemplando as belezas do Infinito, compreendo o porquê de, quando estou no corpo físico, às vezes me sentir triste, como se fosse prisioneiro de um cárcere, cujas grades são as limitações do corpo de carne."
Contudo, naquele instante, sentia-me muitíssimo feliz por ter a liberdade de sair do corpo e conhecer outros mundos, dimensionais ou espaciais, aprendendo na prática sobre a existência de várias realidades.
Tive minha meditação interrompida por uma voz feminina desconhecida, pronunciando meu nome.
Olhei ao meu redor e deparei-me com uma bela mulher, de cabelos curtíssimos cor-de-prata polida, que refletiam o brilho das estrelas. Trajava um vestido amarelo-ouro e, em seus olhos vermelhos como dois rubis brilhava um poder misterioso.
- Quem é você? E como me conhece, já que chamou-me pelo nome? - perguntei.
Sua voz trovejante ecoou no céu, com autoridade:
- Eu o conheço de um passado distante, cujas lembranças você não tem. Meu nome não importa, pois sou conhecida por vários nomes, que dependem do lugar e do tempo em que apareço.
Tive total confiança nela, mesmo sem lembrar de onde a conhecia. Sua presença causava uma agradável sensação. Fui tomado por uma irresistível curiosidade:
- O que você quer comigo?
Amavelmente, ela respondeu:
- Eu vim para despertar sua energia Kundalini, para que você tenha o poder.
Bastante surpreso, quis saber que poder era aquele a que se referia.
- O poder advindo da iluminação cósmica. - esclareceu.
Apesar da minha ignorância em relação aos assuntos espirituais, estava sedento de informações. Indaguei:
- O que é iluminação cósmica?
- Você saberá o que significa quando acontecer. Partirei agora, mas voltarei a procurá-lo. Mudarei a sua vida, e você jamais será o mesmo.
A mulher transformou-se em uma agitada labareda cor de rubi, e dissipou-se no ar, desaparecendo por completo.
Estava, de certa maneira, feliz com as promessas de mudança de vida que ouvira daquela misteriosa mulher. Entretanto, fiquei pensativo e um pouco receoso, pois não fazia idéia alguma do que seria a iluminação cósmica.
Três dias se seguiram e eu encontrava-me projetado, andando às margens de um lago sereno, cercado por uma das florestas de pinheiros do Canadá.
A noite era de lua cheia. Absorto com a paisagem, divagava envolvido pelo espetáculo da criação realizado pelos elementais da natureza.
No céu, as fadas brilhantes bailavam sobre as águas espelhadas do lago, que refletiam em si a luz do luar.
Escutava um coro de vozes estridentes, cuja beleza e encanto podiam hipnotizar. Eram as ondinas, sentadas sobre as pedras às margens do lago. Suas formas eram semelhantes às de pequenas sereias. Elas presenteavam o ambiente com suas lindas melodias.
Diante dos meus olhos surgiu uma labareda. Pensei: "Deve ser a mulher da Kundalini!"
Eu estava certo. Ela aparecia como outrora, falando com autoridade e energia:
- Aldomon! Hoje sua Kundalini será ativada!
Fiquei calado, observando-a atentamente.
Ela levantou seu braço direito e apareceu em sua mão um punhal luminoso.
Um raio energético saiu do punhal em minha direção, envolvendo meu corpo por completo e fazendo com que ele vibrasse. De súbito, fui lançado par fora do meu primeiro corpo astral, o qual ficou de pé, imóvel como uma estátua.
Pela primeira vez tive consciência de que não possuía apenas um corpo astral.
Meu poder mental era bem mais ampliado estando eu no segundo corpo astral.
A mulher de olhos vermelhos aproximou-se e entregou-me o punhal. Segurei com firmeza e curioso, examinei-o em seus mínimos detalhes.
Seu cabo era do mais puro ouro, trabalhado em alto-relevo. Sua lâmina era de prata polida. Ao contemplá-la, admirando a perfeição de seu acabamento, pude notar uma gravura de um homem em baixo-relevo. A fisionomia deste homem assemelhava-se à de uma estátua antiga do deus grego Apolo. Contudo, havia uma diferença marcante: o homem do desenho tinha uma serpente naja enrolada em seu corpo.
Perguntei à mulher qual era o significado daquele símbolo, e ela explicou-me que aquele era o punhal da serpente de fogo, símbolo do domínio da energia Kundalini que, quando despertada, sobe enrolando-se pelo corpo, tal uma labareda serpentina.
Inexplicavelmente, veio à minha cabeça o que deveria fazer com aquele punhal.
Segurei-o em minha mão direita e aproximei-o do meu primeiro corpo e, com um golpe preciso, enfiei o punhal na base da coluna vertebral.
Com o fio de sua lâmina, percorri toda a coluna vertebral, de baixo para cima, parando brevemente no topo da cabeça.
Em seguida, cravei toda sua lâmina no crânio. O cabo do punhal começou a brilhar cada vez mais, transformando-se em um magnífico sol dourado, cuja luz clareou todo o ambiente à margem do lago, onde estávamos.
Após alguns instantes, o punhal voltou ao seu estado anterior. Descravei a lâmina do topo da cabeça, fazendo com ela um trajeto até a ponta do nariz.
Concluída a operação, devolvi o punhal à mulher, que já havia se transformadoem labareda.
Os raios do sol brindavam o alvorecer de mais um dia.
Eu, em minha cama, novamente abria os olhos para o mundo físico. Espreguicei-me, assumindo o controle do corpo.
Sentia-me tão diferente, era como se algo tivesse alterado profundamente a minha consciência.
Vasculhando a memória, lembrei-me dos encontros que tivera com a mulher de fogo. As recordações vieram tão fortes e vivas que sua voz parecia ainda ecoar em minha consciência, dizendo-me: "Eu mudarei sua vida e você jamais será o mesmo".
Só então pude compreender o motivo de tanta estranheza em relação a mim mesmo. O dia que se iniciava era um marco em minha vida.
Antes mesmo que eu pudesse levantar da cama, fui envolvido por uma luz extremamente forte que ofuscou-me totalmente.
Pensei: "Se fosse em outros tempos, eu ficaria tomado de pavor. Mas agora, não. Tornei-me outra pessoa."
A luz diminuiu de intensidade, possibilitando aos meus olhos identificar sua origem. Era um sol, uma espécie de miniatura daquele que ilumina o planeta Terra.
Ele começou a se comunicar comigo, através de telepatia, chamando-me pelo nome.
Sem que eu precisasse pronunciar uma palavra sequer, perguntei:
- Quem é você?
A resposta veio, em uma voz que transmitia infinita sabedoria e serenidade:
- Eu sou a essência da sua vida. Sem mim você não existe, mas eu existo sem você. Sua natureza é efêmera e mutável, que vive, transforma-se e deixa de existir, enquanto a minha é eterna e infinita, que em tudo se manifesta, alimentando e sentindo todas as vidas que pulsam na Criação. Você existe para mim, pois sou seu Eu Superior.
Fiquei profundamente surpreso e um tanto abalado com a revelação.
- Por que só agora me procura, se já faz algum tempo que vivo neste corpo, sofrendo terríveis limitações conscienciais, sem contar as outras? - indaguei.
Ele então falou-me com ternura:
- Eu sempre estive com você, falando por meio de sua consciência. Apesar de você sempre me escutar, raramente me dava ouvidos. Na maioria das vezes, era sufocado e silenciado, mas agora você me atende, e comigo quer aprender sobre as coisas da vida. Estarei com você até que sejamos um.
Inesperadamente, o sol entrou por minha cabeça e desapareceu. Entretanto, deixou sua presença em minha consciência e em meu coração.
Deste dia em diante, jamais me senti só, pois dentro de mim escutava a voz sem som, que incansavelmente me ensinava as leis da criação.
Pude ter acesso a respostas que jamais imaginara existirem.
O contato contínuo com meu Eu Superior fizera em mim uma radical mudança, como se dia após dia eu nascesse de novo, tornando-me totalmente diferente do que eu era.
Fui motivo de choque e espanto para as pessoas que conviviam comigo que, em pouco tempo perceberam que eu me tornara um estranho, não apenas a eles, mas também para o mundo em que viviam. De uma hora para outra, senti-me um estrangeiro que, subitamente, aparece em uma terra desconhecida e percebe que a maioria de seus habitantes parecem viver imersos na inconsciência de si mesmos.
Por muitas vezes, em minhas meditações, fui presenteado com a voz complacente do Eu Superior, atuando em minha consciência e sintonizando-a com as realidades existenciais cada vez mais sutis. O contato com realidades mais evoluídas tornava minha consciência cada vez mais ampliada.
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