domingo, 1 de maio de 2011

Uma borboleta chamada alegria!

TRIBO CELESTIAL_ Chandra Lacombe

Por Diógenes

Que se fizera da lagarta tão peluda e esquisita? Uma pequena e passageira tumba e lá se vai a metamorfoseada figura voando pelos ares, brilhando no infinito. O destino da lagarta é a borboleta, o destino da alma é o Espirito. Com uma tumba no meio a metamorfose não tardará a revelar a gloriosa majestade do SER ilimitado, e voaremos espalhando a beleza reluzida no infinito.

Mais além seremos vaga-luzes de cores variadas indo ao encontro da origem da luz que dá a cor, mas enquanto aqui estamos, vamos aprendendo o que é a vida, com cada extraordinária oportunidade de revelação e autoconhecimento. Aprendendo com cada dança e cada tropicão.

E nestas andanças e quedas penso que já nos graduamos como mestres do sofrimento, esta lição já sabemos de cor, de coração. Sabemos que não é possível desfrutar de vida abundante respirando pouco, respiração plena é vida plena, respiração curta, fraquinha não poderá dar-nos alegria de viver. Já sabemos que os outros não corresponderão às nossas expectativas, já sabemos que as pessoas não estão aqui para nos fazer felizes, que devemos assumir a responsabilidade pela nossa felicidade. E que também não estamos aqui para atender as expectativas de ninguém.

Já sabemos que mentira tem perna curta, e que a pior mentira é aquela que contamos para nós mesmos. Já aprendemos que a vocação garantirá que nosso trabalho seja leve, gracioso e prazeroso, quem não faz aquilo que ama terá dificuldades em amar aquilo que faz, mas onde quer que coloquemos amor ali haverá verdadeira realização.

Já sabemos que dormir demais da dor nas costas que dormir de menos nos deixa com cara de caju velho, que falar demais gasta energia, mas que é importante falar aquilo que é a nossa verdade mais profunda, calar quando nada podemos acrescentar e abrir a boca para decretar a justiça, a paz e o amor.

Aprendemos que comemos mais do que precisamos, e que precisamos de menos para viver mais, pois vida simples sem ostentações proporciona paz de espirito e economia nos analgésicos às nossas dores de cabeça mensais. Que limpar os intestinos proporciona prazer e alegria e estando eles cheios, ficamos enfezados com tudo e todos.

Aprendemos que desejar é bom, mas saber desejar é melhor, pois se não escolhemos bem nossos desejos acabaremos semeando e colhendo dores ao invés de verdadeira satisfação. Aprendemos que poucas coisas na vida tem valor, mas que com absoluta certeza entre os tesouros que a vida oferta está a amizade e o desejo de servir aos demais. Já sabemos que as aparências enganam, e que a gente se deixa enganar por aquelas do tipo Brad Pitt ou Angelina Jolie. Sabemos que a beleza interior é a mais importante, mas que nem por isto devemos ser desleixados com nossa aparência, o conteúdo é mais importante do que a embalagem, mas eu não compro produtos com o prazo de validade vencido.

Aprendemos que não é saudável apenas doar, mas também é doentio querer só receber, que a vida é feita de trocas, perfeitamente simbolizada pelo ar que entra e sai. Já sabemos que recebemos de volta aquilo que damos, e que esta lei cedo ou tarde se revelará infalível. Que a gratidão é um portal aonde nos chega a abundancia divina e material, e que o pessimismo é um parasita a sugar-nos a energia vital.

Aprendemos que ninguém é tão pobre que nada possa doar, nem tão rico que de nada careça. E que um sorriso pode ser um tesouro incomensurável e o consolo ideal para os momentos titubeantes de duvida e amargura.

Aprendemos que não precisamos ser perfeitos, precisamos ser quem somos – um tanto desajeitados, um tanto graciosos, sempre imaculados. Abandonamos a ideia de ser um alguém diferente para simplesmente SER. Sabemos que o Amor não exige, não possui, não controla, não mente, não julga, não condena. Enfim que o amor liberta e é liberdade. Que esta é a principal lição a qual viemos aprender e realizar.

Outros aprendizados mais a vida já nos deu.

Então, depois de tantas lições aprendidas e vividas, porque ainda não somos mestres da bem-aventurança? Será que esta lagarta esta com medo de converter-se em borboleta? Este enfrentamento do desconhecido é exigente e um tanto funesto, a lagarta sente um chamado, depois de uma longa estadia comendo folhas por ai, bebendo a luz no vitral do orvalho matutino, de repente é hora de construir o próprio caixão. De dizer bye-bye para o conhecido, para a vida da maneira como ela sempre conheceu e aceitar, profunda e inquestionável entrega, que é chegada a hora de morrer para o passado.

Ela se mumifica e ali morre como lagarta. Ela precisa fechar-se ao mundo externo, ficar paradinha, e ela não precisa de ninguém, ela faz isso por si mesma, ela se concentra nela mesma, no lado de dentro ela consegue encontrar o ponto de mutação, meditando como pupa. Silencio aterrador reina, movimentos estranhos, a natureza mutante ditando as regras, o rasgar do hímen da vida e por fim a força desesperada de abrir as coloridas asas, desdobrando aos pouquinhos para então completar a transição, do rastejar ao voar.

Nasce à borboleta, restou algo da lagarta? Será que a borboleta sente falta de ser lagarta? A nova condição matou o passado? Só as borboletas podem dizer, mas o importante é que lagartas não planejam, não estudam, não teorizam sobre o metamorfosear-se como borboleta. Não existem livros sagrados das lagartas do tipo: “como virar borboleta” ou “ o evangelho da pupa” elas simplesmente fluem com a vida, e a própria vida trata de fazer delas borboletas.

Na natureza não existem “dogmas e doutrinas” sobre a vida, a vida acontece e ninguém pode impedir seu curso natural. Então é natural que todos despertem para a verdadeira natureza, todo mestre lagartão do sofrimento se converterá em Búdica borboleta da alegria, isto é inevitável, leve o tempo que for – e a mãe natura não tem pressa mesmo.

Ela tem todo o tempo do mundo, o tempo é por si só um agente transformador. Se não oferecermos resistência e simplesmente nos entregarmos, então a vida trará a dor abençoada resultante de se ver à vida tal como ela é. Esta é uma dor real, uma dor de desilusão, ou seja, quando a ilusão é desfeita. Dói, mas repito: é uma dor abençoada.

Celebramos e acolhemos esta dor e a lagarta se converte em borboleta. Rastejamos em busca das folhinhas baixas e não chegamos às alturas gloriosas das flores perfumosas. Para chegar às flores e beber de seu doce néctar, teremos de passar por uma mutação radical, então sim voar ao infinito para colher a Rosa mística do Amor transcendental.

Ainda que belo e poético seja, o que raios queremos dizer com tudo isto?

Que apenas a honestidade em se enfrentar em todo o nosso ridículo, em toda a nossa carência, em todo o nosso vazio existencial e amedrontador, apenas este olhar despido sobre si, é que poderá fazer morrer o velho para renascermos sem uma falsa imagem própria. Nem um Deus grego belo e poderoso nem o corcunda de Notre Dame. Enxergarmo-nos do jeito que somos é a única possibilidade de promover transformação real.

Se eu continuo mantendo qualquer papel “de mim” que não sou eu, como poderei transformar-me de fato? Se seguir nutrindo o fantasma de “mim mesmo”, esta entidade fictícia não poderá realizar outra coisa senão ficção. E continuo na novela da vidinha fantasiosa onde eu estou como personagem principal sonhando com as cenas do próximo capítulo.

A transformação vem quando mergulhamos em nós mesmos, observando cada sensação, cada movimento, cada pensamento, cada sentimento, cada gesto, cada palavra, cada motivação oculta. Uma observação viva e interessada, sem julgamentos, sem rotular ou qualificar o que surge, sem fragmentar-se, apenas contemplação direta e intensa de si no ato de viver, abundante em energia, ela deve carecer de escolhas e preferencias, um olhar inocente de criança que acaba de nascer e esta a descobrir o mundo.

Se isto for aplicado, então a própria observação proporcionará a metamorfose sem nenhum esforço, e sem uma meta pré-determinada, pois o ato de observar é um fim em si mesmo. Amor em termos práticos - aplicáveis à vida cotidiana - é atenção, e nisto se resume toda a ciência espiritual de todos os grandes seres que por aqui passaram.

A liberdade na meditação é a borboleta, a palavra psique, em Grego, quer dizer ao mesmo tempo respiração, espírito e borboleta. E a vida é a flor perfumada de tão rara beleza e tão poderosa fragilidade. Voa borboleta, vai ao encontro da Rosa, pois o destino da lagarta é a borboleta, e o da borboleta é a flor, assim como o destino daquele que sofre é a compreensão, e da compreensão a alegria. O mais puro êxtase nada vale sem compreensão!

E a compreensão nos doará a naturalidade perdida.

Meditemos no Ser radiante, ele doa a si mesmo com amor!

Meditemos no Ser radiante, ele é o Amor!

Vida plena!

Crônicas do Frank – http://cronicasdofrank.blogspot.com/2011/03/uma-borboleta-chamada-alegria.html

Nave Mãe - http://navecomando.blogspot.com/

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