domingo, 27 de março de 2011

Sobre lobos e homens


- Por Frank -

Sento ao redor da fogueira, o fogo aquece o corpo e acalma a alma.
Então, ele se aproxima com comida e bebida e me convida para cear, e traz consigo o que há de melhor: pão feito do trigo mais caro e vinho da melhor safra.
Ele sorri e demonstra estar feliz em me ver. Sorrio de volta, pois é bom estar com ele, conversar, rir, compartilhar experiências, insights, visões e lendas pessoais. Porém, mais do que tudo, é bom estar com meu amigo.


Conto a ele sobre o que venho descobrindo. Tento pôr em palavras concretas aquilo sobre o que só poetizo. Não consigo, pareço uma criança falando sobre o mundo dos adultos com frases infantis. Ele ri e me diz: "Você já percebeu que há certas coisas que só podem ser ditas pela poesia?".
Agora, sou eu quem ri. Então, deixo a criança falar e conto ao meu amigo sobre a minha jornada para transformar sonhos em realidade, e agradeço a ele. Afinal, tudo começou com ele.
E ele finge que não compreende, mas sabe que eu lhe devo muito. Aprendi a ser grato, pois nem todo mundo agradece - e muitos outros sequer sabem receber.
Dizer "obrigado" é essencial para quem agradece e revela humildade e respeito por ter recebido algo de outro - que ainda vale ali dentro.


Ele me conta sobre seus pacientes, pois ele atende muita gente ali no deserto - uma grande leva de peregrinos perdidos, tentando compreender os passos de seus caminhos. Diz que é sempre difícil seguir a sua lenda, mas não consegue mais fazer outra coisa além de ser um ouvido do mundo.
Eu o compreendo, pois sou um dedo apontando, um professor de caminhos... E nossas estradas são parecidas, e buscamos a mesma coisa: conhecimento! E fazemos com isso a mesma coisa: compartilhamos!
"É uma pena que nem todo mundo compreenda que precisamos estudar, discernir, discutir e mudar" - ele diz.


Em seus olhos, o preço pago por ter optado por caminhar sozinho e dividir o que encontra, descobre e aprende. Mas ele não está sozinho, há outros estudantes quebrando ciclos, cortando os cordões dos dogmas, rompendo com seus mestres, para se tornarem professores, que guiarão outros alunos - que também criarão seus próprios caminhos e, com eles, também romperão.
E, assim, seguimos todos, por vezes, como lobos solitários, uivando para a lua a loucura de
ousarmos seguir caminhos ainda não percorridos...
Se formos espertos, aprenderemos com a experiência do lobo, mas não deixaremos de ser humanos, pois ser humano é aprender um com o outro, por vezes, nos estranhando, mostrando os dentes, latindo e até gritando... Mas nunca deixando de sermos amigos.


“A Espiritualidade nos liga ao Divino, porém, algumas vezes ela nos separa dos amigos, e grandes relacionamentos ficam de lado”. - penso comigo.
Ele lê o meu pensamento, ou parece ler, pois, de trás de seus óculos, reside o olhar de um grande irmão de caminhada, que rogo a Deus nunca deixar pra trás... De novo!

São Paulo, 17 de dezembro de 2011.

- Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco de Oliveira, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir em São Paulo, em fevereiro de 2005.
Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos.
Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista online de nosso site e em nossa seção de textos periódicos, em meio aos diversos textos já enviados anteriormente. www.ippb.org.br – Outros textos podem ser acessados diretamente em seu blog na Internet: http://cronicasdofrank.blogspot.com

Do IPPB

Nave Mãe

Um comentário:

  1. ameiii o texto me identifiquei muito ...me passou muito conhecimento ...porem com muita humildade adorei parabens

    ResponderExcluir